William Shakespeare é, no momento, o escritor favorito de Lara Abatte, estudante da EMEF Presidente Campos Salles, situada no bairro de Heliópolis, em São Paulo. O interesse pelo dramaturgo inglês do século XVI começou depois que a aluna passou a frequentar o projeto Academia Estudantil de Letras, ofertado pela instituição com o intuito de aproximar os estudantes da literatura.
Já Larissa Roland, estudante da EMEF Zeferino Lopes, localizada na zona rural de Viamão (RS), prefere falar de outra área. “Estou pesquisando sobre duas doenças no meu projeto. Como eu quero ser médica, meus colegas me chamaram para fazer parte do grupo que tinha esse foco”, conta a aluna sobre o projeto Vida, que além de multidisciplinar, é multisseriado. “O que eu mais gosto na minha escola é isso de poder pesquisar sobre meus interesses com alunos de diferentes anos”, diz ela.
Se hoje as meninas compartilham com orgulho as coisas que estão aprendendo isso se deve à atenção que estas escolas estão dando a uma demanda comum aos estudantes: aulas mais dinâmicas e diversificadas, dentro de um currículo no qual o interesse dos estudantes serve de elemento-chave para a definição das atividades pedagógicas.
Este foi um dos consensos identificados pelas escolas do programa Inova Escola, iniciativa da Fundação Telefônica Vivo, que estiveram reunidas presencialmente nos dias 8 e 9 de outubro, em São Paulo, para refletir sobre os princípios comuns que as norteiam. Se o primeiro dia foi voltado para a construção de recomendações para outras escolas que estão buscando enveredar pelo caminho da inovação, o segundo foi dedicado para ouvir as juventudes e seus anseios.
Além da diversificação curricular, apareceram pontos como a necessidade de participação dos alunos nas decisões da escola, acesso à tecnologia e múltiplas linguagens, apoio psicológico aos alunos e de implementar um processo avaliativo que dê conta de diferentes dimensões, se estendendo para além das provas.
“Acho também que os alunos deveriam poder visitar a secretaria de educação e seu funcionamento para conhecer melhor seus direitos”, opinou Leandra Aragão, da Escola Estadual Mauro de Oliveira (SP), acrescendo o que mais gosta em sua escola: “Tem uma atividade chamada Escambo que é muito legal. A gente anuncia em um painel nossas habilidades, por exemplo, que sou boa em matemática e posso ajudar alguém com dificuldade na matéria e isso pode ser trocado por qualquer outra coisa como um bolo que um aluno faz bem.”
O momento também deu espaço para críticas que foram desde a merenda até as avaliações externas e atividades pedagógicas. “O que mais gosto na minha escola é o apoio que os alunos têm dos professores e gestores. E o que eu acho que tem que mudar é que tem muita atividade na internet que eu não gosto, como na Khan Academy e no Google Sala de Aula. Eu prefiro uma pessoa dando aula para mim do que um computador ”, disse Caio Huanca, da Escola Amorim Lima.
Alessandra Santana, do Colégio Estadual Norma Ribeiro (BA), apontou ainda como a infraestrutura impacta as relações que ali se desenvolvem e o desejo por espaços e tempo livre para conversas e construir vínculos. “Acho que uma questão que incomoda os estudantes são as grades. Os alunos não gostam delas porque se sentem prisioneiros. Ter um espaço ao ar livre faz toda a diferença”, concluiu.