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A cultura possui um poder transformador, e o Festival de Parintins exemplifica essa força de maneira extraordinária. Anualmente, na cidade de Parintins (AM), os bois-bumbás Garantido e Caprichoso competem durante três noites pela melhor apresentação.
O evento aborda temáticas regionais, como lendas, rituais indígenas e costumes dos ribeirinhos, por meio de alegorias, danças, canções e encenações.
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O evento explora temáticas regionais, como lendas, rituais indígenas e costumes ribeirinhos, por meio de alegorias, danças, canções e encenações. Para a população local, o festival é mais do que um espetáculo de luzes, cores e sons que mobiliza a cidade e atrai milhares de turistas (em 2025, a previsão é de 100 mil visitantes). É uma expressão viva de memória, identidade e resistência cultural.
Essa riqueza simbólica se manifesta em diversas expressões artísticas, desde as majestosas alegorias dos bois Caprichoso e Garantido até danças, músicas e representações visuais que narram histórias. Além disso, o festival se expressa como memória viva por meio das toadas, que abordam a formação histórica e cultural do povo parintinense. Essas características transformam o evento em um elo que conecta intimamente a educação ao patrimônio cultural.
Essa riqueza simbólica se manifesta em diversas expressões artísticas, desde as majestosas alegorias dos bois Caprichoso e Garantido até danças, músicas e representações visuais que narram histórias. Além disso, o festival se expressa como memória viva por meio das toadas, que abordam a formação histórica e cultural do povo parintinense. Essas características transformam o evento em um elo que conecta intimamente a educação ao patrimônio cultural.
Os ensaios para o festival começam assim que o carnaval termina. Quando junho se aproxima, Parintins se transforma: deixa de ser apenas uma cidade amazônica para se tornar um espetáculo vivo. Ruas, casas e comércios ganham novas cores e significados. É como se o coração da ilha passasse a bater em dois ritmos: o do boi Caprichoso, azul e estrelado, e o do Garantido, vermelho e apaixonado.
A cidade se divide de forma simbólica e encantadora. De um lado, o bairro da Francesa e o curral Zeca Xibelão vibram com o azul do Caprichoso. Do outro, a Baixa do São José e o curral Lindolfo Monteverde pulsam com o vermelho do Garantido. Até os detalhes urbanos, como as faixas de pedestres, os bancos de praça e as placas de trânsito, se rendem às cores dos bois.
As casas são pintadas com brasões, corações e estrelas. Famílias inteiras se reúnem para decorar muros, varandas e calçadas. Supermercados, farmácias e até grandes marcas adaptam suas embalagens para não ferir a rivalidade: Coca-Cola vira azul, Brahma troca o vermelho pelo tom do boi contrário.
E não é só a estética que muda — o espírito da cidade se transforma. Ensaios tomam conta das noites, os currais fervilham de emoção, e o Bumbódromo, com sua forma de cabeça de boi, se prepara para receber mais de 35 mil pessoas por noite. A cidade respira toada, dança, tradição e orgulho.
Durante o festival, Parintins se transfigura num grande palco, onde cada morador é artista, cada rua é cenário e cada coração bate no compasso da cultura. É uma celebração que ultrapassa a arena: é vivida nas esquinas, nos mercados, nas conversas e nos olhares. Uma rivalidade que, longe de separar, une, porque, no fundo, todos compartilham o mesmo amor pela arte e pela identidade amazônica.
Com mais de 50 anos de história, o Festival de Parintins teve início na década de 1910, quando os bois foram fundados. O Boi Garantido, que leva as cores vermelho e branco, foi criado por Lindolfo Monteverde; já o Boi Caprichoso foi fundado pelos irmãos Roque, Félix Raimundo e Cid, nas cores azul e branco. Os dois grupos de bois começaram a representar nas ruas de Parintins o folclore do boi-bumbá, uma variação do bumba-meu-boi do Maranhão.
O festival, em si, surgiu em 1965, quando um grupo de jovens católicos e os padres da cidade decidiram fazer uma campanha para arrecadar fundos para a construção da Catedral Nossa Senhora do Carmo, padroeira de Parintins.
Desde 1988, as apresentações acontecem no Bumbódromo, uma arena em formato de cabeça de boi, dividida ao meio pelas cores azul do Caprichoso e vermelha do Garantido, com capacidade para mais de 25 mil pessoas.
Durante três noites, os bois se enfrentam em apresentações grandiosas que misturam teatro, música e dança, tudo isso acompanhado de alegorias. Cada boi tem no mínimo 2 horas e no máximo 2 horas e meia para contar sua história baseada em temas amazônicos, sociais ou culturais, sendo tudo isso avaliado por jurados que observam desde a performance até a vibração da “galera”, como são chamados os torcedores.
O espetáculo de cada boi no Bumbódromo é complexo e envolve 21 quesitos, além de outros segmentos não julgados, como Pai Francisco, Mãe Catirina e Gazumbá — personagens folclóricos do “Auto do Boi-Bumbá”.
Há um respeito muito grande. Quando um boi-bumbá se apresenta, a torcida opositora fica em silêncio; existe uma regra sagrada do festival, que é o respeito ao próximo.
Quando integrado ao contexto educacional, o festival se torna uma poderosa ferramenta para conectar o aprendizado à vivência cultural, fortalecendo o território e a identidade local.
Como educadora, percebi que o Festival de Parintins transcende seu papel de espetáculo cultural. Ele é um patrimônio vivo que pulsa com histórias, símbolos e identidades que formam a alma de nossa comunidade. Essa compreensão me levou a tratar o festival como uma ponte entre o território e a sala de aula, integrando-o ao currículo como uma forma de conexão profunda entre as crianças e suas raízes.
O Festival de Parintins, quando integrado ao currículo escolar, leva uma experiência significativa e criativa à escola. Ele oferece às crianças uma oportunidade de protagonismo, ao mesmo tempo em que celebra a riqueza cultural de nossa região. Mais do que uma metodologia de ensino, essa abordagem é um ato de valorização e resistência cultural que prepara as futuras gerações para honrar suas raízes e construir um futuro consciente.
Para além da aprendizagem, o ambiente físico da escola muda: as paredes ganham novas cores, os sons dos ensaios ecoam nos corredores e tomam conta dos corações das crianças. Mas entre tantas alegrias, há um elemento que vem se tornando verdadeiro símbolo da festa: os bumbás escolares.
Inspiradas pelos lendários bois-bumbás da região, as escolas criam seus próprios personagens, batizados com nomes escolhidos pelas próprias crianças. Cada um carrega uma história, um símbolo, uma paleta de cores, um grito de toada e até um personagem principal, como o vaqueiro, a cunhã-poranga, a sinhá. Essa escolha não é aleatória; ela reflete todos os valores da comunidade parintinense.
Ela homenageia as tradições locais e ajuda a construir, dentro dos muros da escola, a identidade cultural do município. É muito interessante porque ter um bumbá próprio faz com que cada escola se sinta parte de algo maior, mas, ao mesmo tempo, única.
As crianças aprendem sobre pertencimento, respeito à diversidade e o poder das histórias que nos formam. É nesse universo encantado que os artistas da comunidade continuam sendo aliados preciosos da escola, muitos atuando até de forma voluntária. Eles orientam as danças, produzem adereços e transmitem saberes que não se encontram nos livros didáticos.
As famílias também se envolvem com entusiasmo. Eles ajudam a costurar as fantasias, montam os painéis e até participam dos ensaios junto com os filhos nas noites de véspera.
É uma grande corrente de afeto e tradição, onde a escola deixa de ser apenas um espaço de aprendizado formal; ela se torna um templo de celebração das raízes. Então, entendemos que o festival não é apenas um evento do calendário escolar, turístico ou do próprio município. Ele se firma como um espelho da alma do município. Cada bumbá escolar é um pedaço vivo da história local, e juntos eles constroem um legado onde educação, cultura e emoção caminham lado a lado.
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Como educadora, meu objetivo é que cada criança compreenda que o aprendizado vai muito além dos livros. Ele transcende as paredes da sala de aula e as lições tradicionais para se conectar ao território, à vida e ao espírito da comunidade. O Festival de Parintins representa, para mim, um símbolo de união entre educação e cultura. Uma narrativa viva, que inspira, forma e transforma.
A seguir, detalho brevemente três projetos que marcaram a minha trajetória:
Esse projeto, realizado em 2022 com crianças de 8 e 9 anos do Colégio Nossa Senhora do Carmo, em Parintins, tinha como objetivo explorar a relação entre as composições poéticas e a formação do povo parintinense, destacando como as toadas retratam a memória histórica e as narrativas de ancestralidade.
Para isso, foram selecionadas cinco composições dos Bumbás Garantido e Caprichoso: Etnias (Enéas Dias, Marcos Moura e João Kenned), Ancestralidade (Leonardo Pantoja e Fábio Ricardo), Miscigenação (Enéas Dias e Arisson Mendonça), Pátria Indígena-Mãos Vermelhas (Ronaldo Barbosa Junior) e Cabanagem (Gabriel Moraes, Joel Almeida, Naferson Cruz e Rubens Alves).
As atividades tiveram início com pesquisas e interpretações das toadas, conectando os alunos às histórias, memórias e símbolos da cultura parintinense. Na segunda etapa, as crianças criaram cenários poéticos utilizando materiais recicláveis e realizaram apresentações interativas, que incluíram narrações de histórias de vida compartilhadas pelas famílias, além de rodas de conversa sobre suas raízes culturais. Por fim, na terceira etapa, os poemas de autoria das próprias crianças foram apresentados em uma exposição aberta à comunidade, fortalecendo a valorização de sua ancestralidade, incentivando o trabalho colaborativo, a oralidade e a prática da leitura.
Realizado em 2024, com alunos do 3º ano do ensino fundamental da Escola Estadual Ministro Waldemar Pedrosa, o projeto levou às crianças a compreensão sobre a formação do povo brasileiro, entrelaçada com a história e as memórias de Parintins. Ao longo da atividade, as crianças compartilharam suas próprias experiências e associaram seus aprendizados aos grandes murais espalhados pela cidade.
Esses murais, pintados em paredes de residências, comércios e fachadas de órgãos públicos, retratam memórias de lutas, resistências e heranças culturais. Utilizando uma paleta vibrante de cores, as obras destacam temas como preservação, justiça social e respeito à diversidade.
Esse momento de reflexão e identificação permitiu às crianças conectar as histórias vivas do presente às experiências dos antepassados, representadas nas obras de artistas locais, como Josinaldo Matos, Dermisson Salgado, André Viana, Denis Amoedo, Levi Gama, Curumis, João Ferreira, Glaucio Ivan Silva, Inácio Paiva, entre tantos outros que emergem da própria comunidade. Esses artistas, além de produzirem suas obras, muitas vezes atuam em coletivos ou colaboram em equipes, deixando suas marcas nos muros da cidade com representações do cotidiano ribeirinho, dos saberes tradicionais, das lendas amazônicas, da força dos povos indígenas e da grandiosidade dos bumbás.
A atividade colaborativa de pintura dos murais estabeleceu uma conexão direta entre a arte e o currículo escolar, fortalecendo o protagonismo das crianças e promovendo, ao mesmo tempo, a valorização da diversidade cultural, da criatividade e do pertencimento ao território.
Também no Colégio Nossa Senhora do Carmo, propus às crianças do 3º ano do ensino fundamental uma experiência única e transformadora para estudar os sólidos geométricos. Organizamos visitas aos painéis muralistas espalhados pela cidade, onde a arte e a história de Parintins ganharam vida diante dos olhares atentos dos pequenos. Além disso, envolvemos as famílias nesse percurso, fortalecendo os laços entre escola, cultura e comunidade.
Para aprofundar ainda mais essa vivência, incentivamos as crianças a realizarem pesquisas sobre os bumbás de sua preferência. A partir desses elementos, elas foram desafiadas a criar personagens folclóricos parintinenses e a desenvolver histórias autorais, impregnadas com a riqueza cultural da nossa terra. O resultado foi surpreendente: surgiram, de forma espontânea, narrativas encantadoras que entrelaçaram a imaginação dos alunos com a magia dos mascotes do colégio, os gatinhos Lilito e Lila.
Para aprofundar ainda mais essa vivência, incentivamos as crianças a realizarem pesquisas sobre os bumbás de sua preferência. A partir desses elementos, elas foram desafiadas a criar personagens folclóricos parintinenses e a desenvolver histórias autorais, impregnadas com a riqueza cultural da nossa terra. O resultado foi surpreendente: histórias encantadoras surgiram naturalmente, entrelaçando a vivência das crianças com a magia dos gatinhos mascotes do colégio: Lilito e Lila.
O estudo dos sólidos geométricos revelou-se muito mais do que um simples conteúdo matemático. Tornou-se uma oportunidade para abordar representatividade, identidade e territorialidade. As construções elaboradas pelas crianças expressaram uma percepção sensível sobre sustentabilidade e pertencimento cultural, evidenciando que a geometria pode ser uma ferramenta para a criatividade, a expressão e a valorização das nossas raízes.
Cada personagem criado, cada história contada e cada obra construída se tornaram um testemunho da riqueza do nosso folclore, do compromisso das crianças com a sua cultura e do poder transformador da educação. Esse projeto foi um verdadeiro convite para olhar o mundo com outros olhos, e sobretudo, para perceber que a arte, a matemática e a tradição podem caminhar juntas na formação de cidadãos conscientes e criativos.
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