30/10/2018
Na Escola Estadual de Ensino Fundamental Campo de Sementes e Mudas as aulas de matemática são na lavoura dos pais dos alunos a cada 15 dias.
Já as de Ciências e Biologia são na horta e no tanque de peixes que ficam dentro do colégio, localizado na zona rural de Cruz do Espírito Santo, região metropolitana de João Pessoa, Paraíba.
Com pouco mais de 16 mil habitantes, a cidade tem 23 comunidades agrícolas. E é com a finalidade de fortalecer os laços dos estudantes com essas comunidades que a escola usa a lavoura e vem reforçando a formação de professores no contexto da Educação no Campo desde 2015.
A Campo de Sementes e Mudas é uma das escolas rurais da Paraíba que adotaram o cultivo de hortas e outros projetos como práticas de ensino-aprendizagem de Ciências, Geografia, Biologia e Matemática.
“Para além da abstração e aplicação na prática, a ideia é fortalecer a identidade do campo nesses estudantes”, explica o professor de Ciências e Biologia Leandro Mendes.
A iniciativa é resultado da parceria entre Secretaria de Estado da Educação (SEE) e o Centro de Educação da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) para a formação de professores.
“Queremos que [os alunos] sintam orgulho de suas origens, independentemente da vocação de cada um, e que busquem a solução de problemas baseados em suas realidades”, diz o educador.
Segundo Leandro, esses espaços permitem que as crianças aprendam conceitos de forma interdisciplinar e interajam mais com seus pais.
A professora de Matemática Rejane Nascimento acredita que a relação entre pais, alunos e escola é fundamental para a valorização do agricultor. “Dessa forma, o estudante passa a dar valor ao trabalho de sua família, e não se sente diminuído e oprimido quando se depara com outras realidades”, diz a professora.
Tanto Rejane quanto Leandro ressaltam que é notável a melhora no desempenho cognitivo dos estudantes a partir da adoção dessas práticas pedagógicas.
“Essa troca de experiências com as famílias, que passaram a participar mais efetivamente do dia a dia da escola, trouxe um salto de qualidade no comportamento e desempenho dos estudantes. Isso me surpreende até hoje” , conta Rejane.
Para a diretora Edineuza Araújo o projeto trouxe mais engajamento dos estudantes, que assim se sentem muito mais motivados para continuar na escola. “Além dos alunos trabalharem ecologia, preservação do solo, alimentação saudável, eles também passaram a entender que não precisam sair do campo para estudar”, diz a diretora.
De acordo com o Censo Escolar da Educação Básica 2017, do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), divulgado pelo MEC, a taxa de evasão escolar no ensino fundamental estadual na Paraíba é de 13,5%.
Dessa forma, se a EEEF Campo de Sementes e Mudas estivesse nessa média, 35 alunos já teriam abandonado a escola. No entanto, dos 260 matriculados, apenas dois deixaram os estudos.
Saiba mais
Biblioteca: Inovação em escolas rurais: o caso Serta