09/09/2020

Conselho Municipal de Educação de SP publica recomendação para retomada das atividades presenciais

Acolhimento das comunidades escolares, flexibilização curricular, revisitação do Projeto Político Pedagógico, respeito às decisões das famílias. Estes são alguns pontos que estruturam a recomendação publicada pelo Conselho Municipal de Educação (CME) de São Paulo (SP), no final de agosto, para o retorno às atividades presenciais na rede.

Além de atentar para as questões relativas aos novos protocolos de saúde, o documento pondera sobre elementos fundamentais para a garantia da aprendizagem e desenvolvimento dos estudantes e bem-estar do corpo docente, como o sentimento de segurança, a necessidade da escuta e o próprio desafio de repensar a organização e estrutura escolar de forma a atender à diversidade de experiências vividas no período de isolamento.

Especial atenção é dada à necessidade de se entender o acolhimento como uma atitude permanente e não algo circunscrito aos primeiros dias da retomada das atividades presenciais. “O acolhimento deverá considerar que diferentes atores podem ter passado por dificuldades, experiências traumáticas como luto e violências ao longo do período de isolamento, e também aqueles que viveram experiências positivas de encontros no ambiente familiar e que agora sentem receio do retorno”, diz o texto.

Neste tópico, reitera como o retorno à Educação Infantil exigirá ainda a adequação para novos tipos de contatos e expressões de afeto. “Como sempre, a linguagem a ser privilegiada será a da brincadeira, trazendo para o mundo infantil essas atuais necessidades, adaptando-as aos bonecos e bonecas, às histórias contadas e inventadas”, aconselha o documento.

Já no contexto do Ensino Fundamental e Médio, é apontada a necessidade de olhar como cada estudante teve a oportunidade de manter o vínculo com a escola, visando um acolhimento diferenciado e um acompanhamento sistemático.

Como estratégia para tal, aparece a construção de redes de apoio entre os próprios estudantes, além da formação de grupos colaborativos para as trocas pedagógicas e até mesmo de apoio emocional. “Não será surpresa que alguns estudantes tenham alterado visões de mundo e projetos de vida a partir de suas vivências na quarentena e o diálogo permanente possibilitará que a escola dê visibilidade a essas experiências”, aponta o texto.

Currículo e PPP

Outro eixo da recomendação diz respeito à flexibilização curricular, isto é, à materialização do currículo como um processo aberto. Segundo a norma, este deverá, mais do que nunca, estruturar, interpretar e analisar o vivido, ressignificando o próprio Projeto Político Pedagógico (PPP) das organizações educativas.

“Nesse reencontro, para além da adequação física e da viabilização dos protocolos de saúde, a retomada do PPP é fundamental para que todas as mudanças e encaminhamentos necessários sejam incorporados a esse documento, que é a versão escrita de todas as intenções, ações e metas que se pretende alcançar na escola, reiterando o caráter dinâmico do PPP que deve ser revisitado mediante a escuta de todos da comunidade escolar”, aponta.

Neste processo de reflexão conjunta, concepções e premissas devem ser revisitadas à luz de questões como: houve alteração na demanda atendida? Descobrimos algo da comunidade que não sabíamos? Como nossos alunos passaram por esse tempo de afastamento?

A recomendação traz ainda a imprescindibilidade de um olhar atencioso para os estudantes do 9º ano, última Etapa da EJA e 3º/4º anos do Ensino Médio, além dos estudantes da Educação Especial.

Atividades presenciais e diagnóstico

Para que todos este encaminhamos sejam possíveis, o CME alerta para a necessidade da realização de diagnósticos e outras estratégias que as escolas julgarem apropriadas para o redimensionamento e reelaboração dos Planos de Ensino, proposição de novos projetos e adequações didáticas e metodológicas que levem em consideração as peculiaridades deste momento e as experiências desiguais vividas pelos bebês, crianças, jovens e adultos.

Outra preocupação deve ser a verificação de como se deu o acesso dos estudantes às atividades propostas, durante o período de isolamento social. “Torna-se necessário construir práticas de acompanhamento do retorno, analisando e revisitando os critérios estabelecidos nos documentos curriculares e protocolos de retorno, construindo dados para novas decisões e replanejamentos por meio de escuta dos educadores, das narrativas das crianças, da escuta dos responsáveis, reconhecendo os saberes diversos a partir das experiências vividas neste período de pandemia com isolamento social”, diz a normativa.

A busca por estas respostas ajudarão os educadores a refletir sobre a escola pós-pandemia, sobre as novas formas de organização dos tempos e espaços, de se relacionar uns com os outros, de ensinar e de aprender, de usar a tecnologia, entre tantas outras possibilidades.

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