03/08/2020

Acolhimento deve estar no cerne da pedagogia pós-pandemia

Entre os muitos desafios impostos pela pandemia de Covid-19 para a educação, um se sobressai: como preparar a escola e o corpo docente para o acolhimento das crianças e jovens no momento em que as aulas retornarem. 

Diversas pesquisas têm mostrado como a saúde mental dos alunos e educadores foi afetada pelo período de crise sanitária e consequente isolamento social. Segundo o levantamento “Sentimento e percepção dos professores brasileiros nos diferentes estágios do coronavírus (COVID-19) no Brasil”, realizado pelo Instituto Península, em uma escala de 0 a 5, os respondentes pontuaram 2,16 quando questionados sobre o impacto do momento atual em seu psicológico.

Além do medo de se contaminar, há a preocupação de não conseguirem apoiar seus alunos no momento da retomada e o estresse causado pela sobrecarga de trabalho, relacionada principalmente à mudança da rotina e adaptações para o ensino remoto.

Outro grupo bastante afetado são os jovens. A pesquisa “Juventudes e a Pandemia do Coronavírus”, que ouviu 33 mil estudantes brasileiros, mostrou que sete em cada dez participantes disseram que seu estado emocional piorou por causa da pandemia. O distanciamento físico agravou, inclusive, o risco de evasão: 28% dos jovens pensam em não voltar para a escola quando a pandemia acabar.

Não existe aprendizagem sem vínculo

Tais evidências materializam a necessidade de se pensar um currículo no qual o bem-estar físico e mental de todos que participam do dia a dia da escola seja contemplado de forma transversal. 

Para Ana Cláudia Arruda Leite, consultora da área de educação do Instituto Alana, a discussão é valiosa pois joga luz sobre a importância da qualidade das relações para uma educação integral e transformadora.  “O vínculo é essencial para a aprendizagem, seja com os colegas, professor, famílias ou com o próprio conhecimento. Se antes o acolhimento já era importante, agora é central tanto para garantir a aprendizagem como a permanência desses alunos na escola, como no caso do Ensino Médio, onde muitos jovens tiveram que arrumar empregos para ajudar suas famílias neste contexto de imprevisibilidade”, diz.

Por isso, entender como cada aluno ou educador foi impactado pela pandemia pode ser o primeiro passo. A realização de um diagnóstico detalhado sobre a turma ou corpo docente ajuda a ter um olhar personalizado, entendendo qual é a realidade enfrentada por cada um. “As situações são diversas. Pode haver um contexto de luto familiar ou perda de emprego. Há escolas, inclusive, que perderam educadores, então é preciso elaborar o luto desta escola”, diz Tathyana Gouvêa, professora do Instituto Singularidades e uma das idealizadoras da plataforma Educovid. “A vida não é fragmentada. As emoções são fundamentais para a capacidade de aprender ou para que um conteúdo se torne significativo”, acrescenta.

Ação intersetorial

Fortalecer os laços comunitários, mobilizando e escutando o território, também será essencial. “Este ‘novo normal’ é uma oportunidade de revisar aquela escola que não fazia sentido em muitos aspectos. Agora é hora de  pensar: por que trabalhar em rede? Por que ser parceiro das famílias? Hoje, está muito mais claro o papel do professor, da escola e do próprio conteúdo científico. A unidade escolar não pode mais ficar fechada em si”, analisa Tathyana.

A complexidade da situação exigirá, mais do que nunca, um olhar intersetorial para as organizações educativas e seus sujeitos. “Veremos o acirramento da pobreza, o aumento da violência doméstica, entre outros problemas sociais. Portanto, o desafio do retorno não pode recair somente sobre o professor ou escola. É preciso que eles tenham acesso a uma rede de apoio, envolvendo Saúde, Serviço Social, entre outros atores que tragam subsídios para o acolhimento dos alunos”, aponta Ana Cláudia.

 

 

 

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