23/07/2019

Como lidar com a violência no espaço escolar?

São muitas as maneiras sob as quais a violência pode se manifestar no ambiente escolar. De agressões físicas e verbais a imposições de verdades únicas, estas expressões frequentemente são remediadas com ainda mais violência institucional: aumento da vigilância, cerceamento da liberdade de alunos e professores, construção de muros e grades, em um arranjo de respostas que versam quase sempre pela punição e autoritarismo do poder público e das instituições educativas. 

No entanto, medidas como estas, além de desacreditarem o papel da escola como mediadora de conflitos, têm se mostrado ineficazes. No livro “Vigilância, punição e depredação escolar” (Editora Papirus), por exemplo, a autora Áurea Maria Guimarães, professora da Unicamp, analisa os motivos que levavam os próprios alunos a danificar o prédio escolar. A constatação? Quando haviam depredações, a escola reforçava os mecanismos disciplinares, podando agitações, críticas e a organização espontânea dos alunos, gerando ainda mais indisciplina.

Limites, claro, são importantes, e a escola precisa ter regras e condutas a serem respeitadas, mas também faz-se necessário compreender a violência como uma expressão de algo mais profundo, como todo fenômeno humano, explica Belinda Mandelbaum, coordenadora do Laboratório de Estudos da Família (LEFAM) da USP. “E compreender não significa justificar, mas ver as situações, os contextos mais amplos. A violência é uma linguagem que exige uma significação. É preciso haver uma disposição da escola, das famílias, transmitida inclusive ao conjunto de alunos, que não trata somente de punir o ato violento, mas de entendê-lo”, diz. 

Democracia como caminho

Entre os exemplos exitosos de escolas que conseguiram diminuir os casos de violência alguns pontos aparecem em comum:  abertura da escola tendo em vista a ocupação pela comunidade, maior protagonismo estudantil e projetos educativos construídos coletivamente. Em suma, estas experiências mostram que não é possível enfrentar a violência apenas com medidas de segurança ou enrijecimento das normas: essa reivindicação passa pela necessidade de maior democracia

“A escola deve favorecer a reflexão e constituir-se como um espaço democrático, que dê conta de acolher a diversidade de alunos e famílias que recebe. Estes momentos de diálogo sobre os conflitos que ali acontecem são também um espaço de aprendizagem, seja sobre a situação que a escola está vivendo, sobre questões que estão atravessando a realidade dos alunos, ou até mesmo um pedido de socorro” diz Belinda. 

Além disso, quando a escola se abre para o diálogo também está transmitindo um modo de pensar, de lidar com situações da vida que podem ser importantes para todos. “Não é só o conteúdo transmitido em sala de aula que importa, mas tudo deve ser oportunidade de aprendizagem. E essas ferramentas são valiosíssimas para lidar com o mundo lá fora”, completa Belinda. 

Outro motivo ainda apontado pela especialista é que sem democracia e liberdade não pode haver produção de conhecimento. “Se não há espaço para o questionamento, já não estamos no campo do conhecimento e sim no da violência, da doutrinação. A escola deve contribuir para que o aluno aprenda e reflita criticamente”, explica a psicóloga. 

 

Escolas e famílias, uma parceria

E como as famílias participam desta equação? A questão se mostra bastante complexa. Se por um lado os espaços escolares se queixam da negligência ou da interferência excessiva dos familiares, do outro as famílias dizem não se sentirem ouvidas dentro da escola – o que costuma levar ao afastamento.

depredação“Há contextos onde as escolas discriminam, em que atribuem às famílias problemas dos seus alunos, o que as vai afastando. Então, é importante repensar essa concepção de família ideal, do que a escola espera dos pais ou responsáveis. Ela não pode recriminar, tem que estar aberta para que as famílias sintam que têm espaço ali”, diz Belinda. 

Em contrapartida, nos casos das famílias que procuram a escola para impor o que ela deve ensinar ou silenciar, é preciso colocar limites. “O silenciamento dos professores é inadmissível. Nessas situações, não vejo outro caminho a não ser a escola, colocando seus limites, estar aberta para o diálogo para que essas questões podem ser pensadas juntamente. Um caminho são as reuniões de pais, onde essas experiências diversas podem ser trocadas e coexistir.” 

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