17/06/2021
Entre as muitas características que aproximam as escolas e organizações educativas inovadoras, uma das que mais se destaca é a capacidade que possuem em responder às necessidades e anseios de um mundo em constante transformação. A instauração da pandemia de Covid-19, no entanto, foi um desafio em especial, já que provocou mudanças abruptas não somente de ordem pragmática, mas também em concepções anteriormente arraigadas.
Desde então, termos como ensino remoto, replanejamento, ensino híbrido, entre tantos outros começaram a figurar no cotidiano dos educadores e propostas alternativas surgiram para dar conta da dinamicidade dos novos tempos. Este também foi o caso do Colégio Elvira Brandão, em São Paulo (SP). Mesmo com uma trajetória de transformação consolidada, a escola precisou entender as prioridades e ajustes que se fizeram necessários diante da nova realidade.
“Quando veio a pandemia nos juntamos para pensar um currículo à luz da aprendizagem digital. Não era um currículo novo, mas com adaptações para o modelo remoto. Queríamos entender como nos adaptar ao formato mantendo nossa identidade”, conta a diretora Caroline Genero.
Para isso, foram atrás daqueles que mais tinham a contribuir: os estudantes e suas famílias. “Sempre fizemos esta escuta. Por ano, envolvemos as famílias em quatro pesquisas para que possam trazer suas satisfações e insatisfações. Mas foi muito importante ouvir a comunidade naquele momento para entender as necessidades mais urgentes.”
Outro aspecto que passou a pautar as reuniões pedagógicas foi a cultura digital. Longe de ser uma novidade na escola, onde integra o projeto político pedagógico desde 2015, o tema foi debatido e aprofundado. “Algo que consideramos muito importante é a autonomia do nosso estudante. Então quando eles foram para o ambiente digital isso contou a nosso favor, pois estavam acostumados”, explica Caroline.
Funcionando atualmente no modelo híbrido, o colégio tem investido em formações para compartilhar os novos aprendizados entre toda a comunidade escolar. “É um modelo novo para a gente. Então temos olhado em equipe para as potências de cada um. O fortalecimento da equipe gestora enquanto grupo, inclusive, foi essencial para viver este e outros momentos de instabilidade. Se o grupo está estabelecido fica mais fácil pensar em estratégias e caminhos coletivos”, defende Caroline.
Neste processo de reinvenção vivido pelas escolas, uma inspiração também tem sido projetos liderados pelas juventudes. Focadas em diferentes questões sociais e construídas a partir de muita resiliência, estas iniciativas sabem como as mudanças são inerentes ao desenvolvimento de uma proposta transformadora e como reinventar-se, muitas vezes, se torna sinônimo de continuar existindo.
Foi assim com Alfredo Alves da Silva Neto, de Passira (PE), idealizador do projeto VAI – Vontade de Aprender Idiomas, que disponibiliza aulas de inglês e espanhol de forma gratuita para jovens em situação de vulnerabilidade social.
Após ter tido a oportunidade de fazer um intercâmbio em uma escola nos Estados Unidos como bolsista de um programa estadual, Alfredo percebeu quão díspares eram as realidades testemunhadas por ele – a de sua cidade de origem e a norte-americana. “Sou de uma cidade pequena no agreste pernambucano onde não tem escola de idiomas. Para aprender inglês, ou você vai até a cidade vizinha ou se “vira”, que foi meu caso. Eu aprendi sozinho, mas porque tive a sorte de morar perto de uma biblioteca pública”, conta.
Quando retornou ao Brasil, o jovem percebeu que não bastava ter ascendido pessoalmente – era preciso dar oportunidade para que outras pessoas construíssem as suas histórias. “Quando abrimos a inscrição para o VAI, a primeira surpresa foi se deparar com 124 inscritos. A segunda, foi observar quase metade desistir”, lembra.
Na tentativa de entender a evasão, Alfredo e seu grupo identificaram um terceiro desafio: a baixa autoestima destes jovens. “Conversando com os alunos, ouvimos coisas como ‘inglês não é para mim’ e que vinham de famílias onde ninguém sabia ler e escrever e que, portanto, não conseguiriam aprender outra língua”, conta o estudante.
Do diagnóstico, veio a constatação de que precisavam também de uma abordagem socioemocional junto ao ensino de idiomas, com o apoio de mentores que ajudassem os estudantes a lidarem com as frustrações, inseguranças e ansiedade típicas do processo.
Então veio a pandemia e uma nova necessidade de reformulação. As aulas que aconteciam de forma presencial em uma sala cedida por uma instituição de ensino tiveram que ser adaptadas para o online. Uma inovação que se provou muito frutífera. “Agora temos alunos de diferentes partes do Brasil. Acreditamos que aprender um idioma vai muito além de abrir uma oportunidade acadêmica e profissional; proporciona conexão entre pessoas, culturas e isto gera as transformações que tanto queremos ver na sociedade. E para essas conexões aconteceram não existem barreiras no virtual”, diz.
Deste entendimento partilha Luiza Soares, de Itajubá (MG), uma das idealizadoras do projeto Reprogramando, que oferece aulas de robótica para escolas públicas. Nos últimos dois anos, o grupos de jovens por trás da iniciativa vinha se dividindo entre a criação de conteúdos e o ensino presencial de programação e robótica, mas com o contexto da pandemia tiveram que pensar em outros caminhos.
“Estamos focados na construção de um material didático e de uma plataforma online de ensino de robótica. Mesmo antes da pandemia, já pensávamos em algo neste sentido porque faltava infraestrutura nas escolas. Tínhamos, por exemplo, que rotear a internet de nossos celulares ou se um professor estava usando o projetor, não havia outro para trabalhar”, explica a jovem, acrescentando que a ideia é migrar dos kit físicos para ferramentas digitais como o Scratch e o Open Roberta Lab.
Com o novo formato, a expectativa é impactar ainda mais pessoas, aproximando-as das áreas de matemática e ciências. “Além de colocar esses conhecimentos em prática, a robótica trabalha liderança, pró-atividade, trabalho em grupo. É muito legal quando, por exemplo, eles entendem como funciona o sensor dos postes de luz das ruas ou da porta dos shoppings. Vejo os alunos cada vez mais interessados pela tecnologia, principalmente as meninas, o que é muito legal porque mostra como essa não precisa ser uma área masculina”, aponta Luiza.