09/11/2021
Um dos aspectos mais desafiantes provocados pela pandemia e a consequente suspensão das atividades presenciais das escolas foi o afastamento que os alunos tiveram dos espaços e oportunidades de socialização ofertados pelo cotidiano escolar. Esta questão foi ainda mais árdua na Educação Infantil, onde as crianças estão vivenciando e construindo inúmeros aspectos relacionados à dimensão coletiva e onde as interações são eixo estruturante do currículo.
Tecer e reconstituir esses laços com as crianças, portanto, tem sido essencial neste momento de retomada. Acolhimento, afeto e trocas são palavras-chaves que vêm pautando as práticas pedagógicas no esforço de apoiar as crianças e ressignificar tanto a escola enquanto espaço de encontro bem como as experiências vividas nos tempos de isolamento social com suas famílias.
Tem sido assim na UME Leonor Mendes de Barros, localizada em Santos (SP). Em agosto, a Secretaria Municipal de Educação aprovou a possibilidade de retorno para as famílias que assim desejassem, de acordo com a possibilidade de cada unidade escolar de cumprir com as diretrizes e os protocolos sanitários estabelecidos. “Nossa escola é bem grande, ocupa toda uma praça, as janelas são enormes e dão para uma varanda arejada. Por isso, conseguimos retomar com 100% da capacidade”, conta Márcia de Castro Calçada Kohatsu, diretora da unidade.
Antes disso, no entanto, houve muito diálogo e repactuação. A diretora conta que esta troca foi necessária para que os pais e responsáveis se sentissem seguros e confiantes em relação ao trabalho que a escola iria desenvolver. “A retomada em nossa escola foi muito dialogada. Temos uma gestão democrática: conversamos com o conselho de escola, famílias, associação de pais e mestres e a equipe de gestão pedagógica foi muito consultada”, conta.
Nestas conversas, todas as dúvidas e preocupações procuraram ser respondidas pela gestão, criando um cenário seguro para as crianças e seus familiares. No caso das crianças que não retornaram ao presencial, a equipe fez uma busca ativa e chamou as famílias para conversar e compreender cada contexto. “Queríamos entender porque elas não haviam voltado para que as famílias se sentissem também orientadas e apoiadas em relação a isso”, conta Márcia.
Para a diretora, este também tem sido um momento de rever ritmos, espaços, posturas e expectativas. Longe de cobrar resultados a partir das propostas pensadas e planejadas antes da pandemia, a escola entendeu que era preciso, antes de tudo, acomodar a nova situação. “As professoras, por exemplo, sentiram a necessidade de desacelerar e passaram a dar mais importância para a convivência, para a escuta, para a conversa”, relata.
Já amplamente utilizados antes da crise sanitária, os espaços ao ar livre ganharam ainda mais relevância no cotidiano escolar. “Estamos oferecendo para as crianças as vivências e experiências mais naturais possíveis. Nosso projeto político pedagógico é totalmente voltado para a natureza, para a educação integral. Então as crianças têm muito contato com jogos simbólicos, com as fantasias, com o parquinho, com o tanque de areia”, conta Márcia.
Aos poucos, as crianças foram se envolvendo e entendendo os protocolos sanitários contemplados pelas propostas que as professoras iam desenvolvendo, tornando-se também responsáveis pelos novos combinados. “Não juntamos todas as crianças no mesmo ambiente. Eles frequentam os espaços em momentos distintos”, explica a gestora.
Olhar a escola cheia de novo, povoada pelas vozes e movimentos da crianças, depois de tanto tempo, tem sido no mínimo gratificante. “A escola é um lugar de apoio para as famílias e da garantia dos direitos da infância”, lembra Márcia, que destaca um legado deixado pela pandemia: “cuidar muito um do outro.”