26/04/2019

Inovação para garantir o direito à educação

Nenhum para trás. É este o mote que o Dia Mundial da Educação, celebrado neste 28 de abril, quer suscitar com a sociedade a fim de defender uma educação inclusiva, equitativa e de qualidade para todos. Criada em 2000, durante o Fórum Mundial de Educação da Unesco, em Dakar (Senegal), a campanha chama atenção para os desafios que persistem no acesso e permanência de crianças e jovens na escola como a disparidade de gênero e raça, os altos índices de evasão no Ensino Médio, as discrepâncias regionais, entre outros entraves para garantir o direito à educação.   

Nesta perspectiva, o debate sobre inovação na educação tem muito a acrescentar. “Há uma demanda social por melhoria da qualidade da educação pública. E este progresso pode ser construído via inovação, até porque foram os métodos “clássicos” que nos deixaram nesta situação desfavorável”, aponta Luciano Meira, professor da Universidade Federal de Pernambuco e sócio-fundador da Joy Street.

O professor pontua que inovação não é unicamente tecnologia e esta, por sua vez, não se refere unicamente ao digital. “Toda vez que eu tenho um processo novo que transforma radicalmente os comportamentos da sociedade, estou lidando com tecnologia. Portanto, inovação é uma mudança de valor e a tecnologia é a plataforma que apoia esse processo de transformação”, explica.

Para o Movimento de Inovação na Educação (MIE), rupturas paradigmáticas em cinco dimensões – gestão, currículo, ambiente, intersetorialidade e metodologia – podem impactar positivamente a aprendizagem e o desenvolvimento integral do ser humano. “Inovação pressupõe mudança na forma de entender a produção de conhecimento. Um projeto é inovador se responde a necessidades sociais contemporâneas. Em suma: o que caracteriza uma inovação educacional é, essencialmente, garantir o direito à educação a todos”, resume José Pacheco, da EcoHabitare e membro do MIE.

E muito se engana quem pensa que estas experiências estão distantes. “Há muitas Finlândias no Brasil. Os projetos humanos contemporâneos requerem que abandonemos estereótipos e preconceitos. Urge humanizar a educação, constituir redes de aprendizagem, que promovam desenvolvimento humano sustentável. Urge conceber novas construções sociais de aprendizagem. E isso já está a acontecer no Brasil”, diz Pacheco.

Inovação para a equidade na prática

Testemunha disso é Lilian Iamishe, professora dinamizadora da EMEF Desembargador Amorim Lima, em São Paulo. A escola há muito dispensou as notas, substituindo-as por avaliações processuais que acontecem ao longo do ano.

“Aqui, não tem isso de quem é melhor em Matemática ou em Português. Não há comparação entre os alunos. E essa é uma abordagem que além de respeitar as individualidades e os tempos de cada indivíduo torna o processo de aprendizagem mais inclusivo ao não deixar ninguém para trás”, explica.

Outro exemplo são as tutorias, que acontecem uma vez por semana com o intuito de fomentar o vínculo entre educadores, educandos e comunidade. “É uma escolha de olhar para as relações antes dos conteúdos. Meu papel como professora tutora é olhar de perto o desenvolvimento de cada estudante, os caminhos que querem trilhar e apoiá-los.”

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Atividade de Robótica com Lego na EMEF Maria Luiza Fornasier Franzin

Este cuidado com o interesse dos alunos está presente também na diversidade do currículo ofertado pela EMEF Maria Luiza Fornasier Franzin, localizada em Águas de São Pedro, interior de São Paulo. Visando o protagonismo e a experimentação dos alunos, a escola traz 20 opções de oficinas para os alunos em tempo integral como programação, robótica com Lego, língua espanhola, culinária, música e dança. 

“Temos pouquíssimas faltas na escola. Isso é tradução de um ambiente de aprendizagem que é prazeroso para as crianças”, aponta Dalva da Silva, diretora da EMEF. “Hoje, não temos a preocupação com evasão porque temos uma escola que traz os objetos do interesse de nossos alunos para dentro dela, mostrando que pertence a eles”, acrescenta Marcos de Jesus, coordenador pedagógico.

Mas para que esse êxito seja realidade em mais instituições é necessário que a sociedade defenda e exija equidade no acesso à educação, aponta Luciano. “Uma sociedade desigual perde diversidade dentro de espaços fundamentais como a universidade. E a inovação é fruto da diversidade de pensamento. Então, temos que cuidar melhor do planejamento e da construção do nosso futuro como País. E isso requer pensamento crítico, pessoas articuladas em torno de problemas sociais e igualdade de oportunidade.”

Pacheco também reflete sobre a questão. “O processo de mercantilização de um direito humano – o direito à educação – cresce exponencialmente, a par do criminoso sucateamento da escola pública. Por ignorância ou perfídia, aqueles a quem competiria criar condições de a todos garantir esse inalienável direito recusam assumir um compromisso ético com a educação. No aventureirismo pedagógico das pseudo-inovações, hipotecamos destinos. Mas se vivemos tempos conturbados, numa “selva humana” da competição de todos contra todos, sejamos esperançosos: inovemos”.

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