25/10/2022
Por Denis Plapler
No sábado, 1 de outubro de 2020, às vésperas das eleições, reuniram-se na Casa do Povo, no bairro do Bom Retiro, no centro da cidade de São Paulo, a Associação Janusz Korczak Brasil, Instituto Vladimir Herzog, Instituto Paul Singer, Instituto Dalmo de Abreu Dallari e o Coletivo Nome dos Números.
O encontro foi proposto pela AJKB para uma importante roda de conversa sobre educação, democracia e direitos humanos, passando também inevitavelmente pelos temas da memória, o seu apagamento como função política e culturas de resistência. Diante do atual contexto político as organizações manifestaram seu apoio ao candidato Luiz Inácio Lula da Silva e esperança na reconstrução do Brasil, a partir destas importantes eleições.
A bandeira brasileira na foto de capa deste artigo trata-se de uma intervenção artística da Casa do Povo. Após as eleições de 2018 decidiram encravar um ferro que atravessa todos os andares do seu edifício, como uma faca que os apunhalou pelas costas, ao país eleger um fascista para a presidência da República, ferindo os princípios da casa, que em seu próprio estatuto se reconhece como uma instituição antifascista. A proposta da intervenção é retirar a bandeira apenas com o fim deste desgoverno, que tanto prejuízo e destruição trouxe ao país, quem sabe neste próximo domingo. Estas organizações presentes carregam o nome de importantes pessoas, com a finalidade de manter viva a memória, o legado, a missão e seus valores.
Janusz Korczak foi um médico-educador, escritor, professor e poeta, deixou uma linda obra, com seus livros escritos a partir de sua prática, uma maravilhosa experiência humana de dois orfanatos autogeridos pelas próprias crianças, na Varsóvia da metade do século XX. Korczak e todas suas cerca de 200 crianças foram assassinados pelos nazistas em 1942. Vladimir Herzog foi um importante jornalista brasileiro, também de origem judaica, defensor da democracia, foi perseguido, torturado e assassinado pelos militares no período da ditadura no Brasil, em 1975. Paul Singer, economista, professor e escritor, nascido na Áustria e principal referência sobre Economia Solidária no Brasil, estava também representado, assim como Dalmo de Abreu Dallari, grande jurista, profundamente comprometido com a educação e com a democracia, chegou inclusive a presidir também a AJKB e foi um dos grandes responsáveis pela construção do Estatuto da Criança e do Adolescente na década de 1990, no Brasil, exemplo de pai, faleceu recentemente e viveu completamente comprometido com a causa dos direitos das crianças.
A Casa do Povo, organização que acolheu o encontro, é um centro cultural, um coletivo de coletivos que após ser fechado também no período da ditadura militar, renasceu e promove atualmente diversas atividades em seu espaço, completamente comprometidos com os valores do respeito da pluralidade, da democracia e dos direitos humanos. O Coletivo Nome dos Números, estava também presente e apresentou um pouco a respeito do seu trabalho, que busca justamente dar visibilidade às tantas vítimas que morrem de forma invisível no Brasil, muitas vezes vítimas da própria Polícia Militar, o Coletivo relatou acompanhar diversas chacinas contra crianças e adolescentes em diversas regiões da periferia da cidade de São Paulo, fortalecer a democracia e os direitos humanos neste sentido é buscar trabalhar para interromper estes absurdos e injustiças.
O apoio ao candidato Luiz Inácio Lula da Silva foi unânime e consensual, assim como a convergente oposição a tudo aquilo que o atual governo bolsonarista representa e o seu namoro com as diversas formas de fascismo, apologia a tortura, a ditadura, ao racismo, ao machismo, a homofobia, fim de todos os direitos e até mesmo a promoção do desmatamento. As organizações entendem como urgente e imprescindível fortalecer a candidatura do PT como forma de recuperar os valores e as instituições democráticas do país. Passadas as eleições, não será fácil reconstruir um país após quatro anos tão deletérios para o Brasil. A união das forças progressistas será fundamental para a reconstrução de um Brasil menos desigual, mais justo e solidário.