18/08/2022

Veja os destaques do encontro virtual “Democracia e Educação: por uma Educação Democrática e Humanizadora”

No dia 11/08 de 2022, ocorreu o encontro virtual “Democracia e Educação: por uma Educação Democrática e Humanizadora”, promovido pela REDHUMANI, em sincronia com outras manifestações em todo o Brasil pela defesa da democracia.

A data foi escolhida em homenagem ao mesmo mês de 1977, quando o professor Goffredo da Silva Telles Junior, no Largo de São Francisco, leu a Carta aos Brasileiros, na qual denunciava a ilegitimidade do então governo militar e o estado de exceção que imperava. Conclamava também o restabelecimento do estado de direito e a convocação de uma Assembleia Nacional Constituinte.

Quatro décadas depois, o apelo foi similar. “Esse é um dia para afirmarmos que outro país é possível, baseado nos princípios que estabelecemos na Constituição de 88”, sintetizou Jaqueline Moll, professora titular da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

Na abertura do evento, mediado por Celso Vasconcelos, foi feita a leitura da “Carta às brasileiras e aos brasileiros em defesa da Democracia”, que atingiu mais de 1 milhão de assinaturas individuais e o apoio de mais de 500 entidades da sociedade civil até o momento. O documento foi redigido pela Faculdade de Direito da USP e circula desde 25 de julho, após o presidente Jair Bolsonaro difamar o sistema eleitoral brasileiro em reunião com embaixadores estrangeiros.

Entre outros pontos, a carta alerta para o momento de imenso perigo para a normalidade democrática, risco às instituições da República e insinuações de desacato ao resultado das eleições. “Ataques infundados e desacompanhados de provas questionam a lisura do processo eleitoral e o estado democrático de direito tão duramente conquistado pela sociedade brasileira. São intoleráveis as ameaças aos demais poderes e setores da sociedade civil e a incitação à violência e à ruptura da ordem constitucional”, diz o texto.

À leitura, se seguiram uma série de comentários feitos por importantes nomes da educação no Brasil. Entre eles, Gaudêncio Frigotto, professor titular da Faculdade de Educação da UERJ, que defendeu: “Precisamos unir forças sociais para dar sustentação e ir além do que foi possível construir nos 15 anos de governos populares. Ir além e marcar um ponto de não retorno na construção de uma nação autônoma e igualitária e reiterar que a educação pública, gratuita, integral e humanizadora é uma condição necessária.”

Pedro Demo, professor emérito da Universidade de Brasília (UnB), por sua vez, falou contra o fundamentalismo que hoje se apodera do Brasil e sobre a importância da diversidade. “Ideias boas são diferentes. É preciso aprender com a divergência, aprender com outros olhares e com a interdisciplinaridade. É muito importante tecer um tapete com muitos fios, um tecido com muitas malhas. Isso vai nos permitir fazer uma educação como uma obra conjunta, de todos”, colocou.

Com a experiência de quem trabalha na educação pública, em escolas de regiões periféricas, há mais de 23 anos, a educadora Eliane Pinheiro afirmou: “Desde do golpe de 2016, nós trabalhadores e moradores da periferia estamos vivendo uma crescente piora na qualidade de vida. Com a eleição do atual presidente, se intensificaram diversas formas de violência: a da fome, da violência policial, a hostilidade contra professoras e professores que ousam discutir direitos humanos em suas escolas. Penso que o momento histórico que vivemos exige que intensifiquemos todo e qualquer grito contra o autoritarismo e repressão também de forma presencial, tomando as ruas e praças”, convocou.

Em sua fala, o francês Bernard Charlot, professor visitante na Universidade Federal de Sergipe, lembrou que não é só no Brasil que o projeto democrático se vê ameaçado, mas em todo o mundo. Logo, que precisamos colocar a democracia não só como um objetivo final, mas como um caminho a sempre ser trilhado e perseguido. “Defendemos a democracia política porque ela é condição para avançar rumo à democracia social, econômica e cultural”.

Professor do Centro de Educação da Universidade Federal de Santa Catarin, Juares Thiesen falou, por sua vez, como na educação a democracia tem sido a espinha dorsal de toda a luta histórica. “É ela que está no centro do desejo de toda política pública e formação humana, das diretrizes mais amplas nacionais até nossa prática cotidiana em sala de aula. Ela é o caminho que parece melhor integrar, conectar aquilo que denominamos de utopia com a factibilidade”, apontou.

Ainda nesta linha, Helena Singer, diretora de Juventudes da Ashoka, reiterou como é impossível existir democracia sem um projeto de educação que a almeje. “Talvez seja exatamente isso que fez falta nesses 500 anos de história do Brasil. A prova de que não temos um projeto de educação para a democracia é que foram os setores mais escolarizados que elegeram esse governo federal e vários governos estaduais e representantes do Legislativo com seus projetos explicitamente antidemocráticos, de viés facista, autoritário, racista, misógino, lgtfóbico”.

Para a socióloga, o momento atual urge a efetivação deste projeto dentro da prática educativa. “A educação não é um conteúdo que se estuda, é uma prática, um valor e uma cultura. Somente as instituições educativas são capazes de formar as novas gerações para valorizarem e amarem a democracia”, finalizou.

Veja as outras falas e a live na íntegra no vídeo abaixo:

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