14/06/2019
Por Porvir
Quando se discute a necessidade de inovar em sala de aula para desenvolver com os estudantes de hoje as habilidades que eles vão precisar no futuro, uma das grandes dificuldades que se encontra é saber onde, como e qual a efetividade das inovações educacionais. A inovação na educação pode ser vista como indutora de mudanças nos sistemas educacionais pelo mundo? Qual o papel da tecnologia nesse processo? Para responder essas e outras questões, a OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) divulgou o relatório “Measuring Innovation in Education 2019” (“Medindo a Inovação na Educação”, em livre tradução).
De acordo com a publicação, que examinou 139 práticas de ensino fundamental e médio em bancos de dados como o PISA (Programa Internacional de Avaliação de Alunos), TIMMS (Tendências Internacionais nos Estudos de Matemática e Ciência) e o PIRLS (Estudo Internacional sobre o Progresso do Letramento em Leitura), mensurar a inovação e entender como ela funciona é essencial para melhorar a qualidade dos sistemas. Mesmo sem ter informações sobre o Brasil, com o estudo em mãos, formuladores de políticas públicas podem saber o que está dando certo no exterior para ter um melhor respaldo na hora de realizar intervenções e direcionar os recursos.
Para avaliar inovações na educação, o documento parte de três perspectivas: comparação da educação com outros setores, identificação de mudanças significativas no sistemas educacionais e construção de métricas para verificar a relação entre a inovação e as mudanças nos resultados educacionais.
Antes de descrever os resultados, primeiro é importante determinar o que é inovação em educação, segundo a OCDE. “Inovação está relacionada à adoção de novos serviços, tecnologias, processos, competências por instituições de ensino que levem à melhora de aprendizagem, equidade e eficiência”, diz o documento.
Apesar das inovações serem moderadas, alunos de sistemas dentro da média da OCDE têm experimentando diferentes práticas de ensino e aprendizagem em comparação aos seus pares nos últimos dez anos. Entre uma das maiores mudanças, está a aquisição de conhecimento independente, já que mais estudantes usam computadores e podem buscar informações para ampliar as discussões em sala de aula.
Ainda que as inovações não estejam necessariamente relacionadas ao uso de tecnologia, o documento destaca que as TICs (Tecnologias da informação e Comunicação) têm se apresentado como um importante motor de mudança.
Entre os professores, o relatório também apresentou mudanças nas práticas. A proporção de docentes que participaram nas últimas décadas de atividades de aprendizagem entre pares aumentou, enquanto o treinamento formal permaneceu estável.
O documento aponta que a inovação não deve ser vista como um fim, mas como um meio de melhorar resultados educacionais. Em média, os países avaliados que mudaram suas práticas pedagógicas conseguiram melhorar os resultados acadêmicos dos estudantes e aumentaram o nível de satisfação e diversão na escola.
Na hora de indicar o que impulsiona a inovação, o documento aponta seis fatores de destaque:
1) Recursos humanos: habilidades e abertura para inovação por parte de atores do setor educacional;
2) Organização de aprendizagem: organização e capacidade das instituições para gerar conhecimento e aprimorar práticas.
3) Tecnologia: aplicação de tecnologias na educação, particularmente de “big data”.
4) Regulação e organização do sistema: a inovação só ganha força em ambientes onde boas ideias podem ser implementadas e não são encobertas por diretrizes com muita aversão ao risco para currículos ou processos de avaliação.
5) Pesquisa educacional: o investimento em pesquisa e avaliação é considerado um elemento chave para o ecossistema de inovação.
6) Desenvolvimento educacional: como acontece em outros setores, a educação também deve buscar desenvolver ferramentas inovadoras, organizações e processos para melhorar e mudar suas práticas.
Abaixo também selecionamos algumas conclusões do estudo a partir da associação entre inovação e resultados acadêmicos, além do peso do investimento financeiro. Trata-se de uma maneira de ajudar atores em diferentes níveis do processo educativo a entender se as mudanças estão se traduzindo em melhoria nas escolas e salas de aula, bem como se estão em linha com o que foi planejado inicialmente.
Ensino fundamental 1 – No ensino fundamental, o mesmo professor geralmente ensina todas as áreas do conhecimento, o que sugere que a inovação pode ter um efeito interdisciplinar e estar vinculada a todos os resultados da aprendizagem. Isso acontece positivamente tanto em letramento, quanto em matemática e ciências.
Ensino fundamental 2 e médio – Existe uma pequena associação positiva entre a inovação nas práticas de ensino e a mudança média nos resultados da aprendizagem em matemática e ciências. Como existe um professor para cada área, há menos chance de fertilização cruzada entre inovação em matemática e educação em ciências.
A inovação no ensino de ciências tem sido positivamente associada com a melhoria dos resultados da aprendizagem na última década, enquanto que com a inovação na educação matemática isso não acontece. Isso nos lembra que a inovação não leva necessariamente a uma melhoria nos resultados desejados, exatamente como as reformas políticas às vezes falham. Por outro lado, também reforça o tempo necessário para que a inovação produza seus efeitos.
A inovação na educação pode ser feita com poucos ou muitos recursos. A conectividade e o uso pedagógico de TICs durante as aulas pode depender de um determinado nível de equipamento e infraestrutura, além da formação de equipes técnicas. Dada a estabilidade e até mesmo a pequena diminuição no acesso às TICs, não se deve esperar investimento em larga escala. Algumas inovações podem requerer formação de professores, mas também demandar a participação em cursos informais, que também envolvem algum custo (como o tempo da equipe).
Mudar as práticas de ensino e aprendizagem pode demandar novos conhecimentos, crenças ou atitudes, e isso pode exigir algum investimento para: produção de novos conhecimentos, comunicação, facilitação da aprendizagem entre pares, por meio de posts no blog da escola ou revisões sistemáticas de evidências existentes, ou ainda reuniões internas da escola e a participação em conferências promovidas por outras organizações.