16/04/2021
É fácil reconhecer a Fundação Casa Grande Memorial do Homem Kariri em Nova Olinda, no sul do Ceará: é a casa azul sempre de portas abertas para quem quiser entrar.
Mas o que acontece quando a pandemia exige que estes portões se fechem? A instituição, que trabalha com programas de Educação Infantil até a profissionalização de jovens, tem proposto o caminho inverso: levar o acervo sobre cultura popular do memorial às casas das crianças e jovens da região.
Para entender como, o Movimento de Inovação na Educação conversou com Fabiana Barbosa, diretora da Fundação, que compartilhou ações que a instituição vem desenvolvendo de acordo com as 5 dimensões de uma organização educativa inovadora: metodologia, gestão, currículo, ambiente e intersetorialidade. Confira:
Com as atividades presenciais suspensas desde março de 2020, a Fundação Casa Grande Memorial do Homem Kariri tem se reinventado para continuar atendendo as crianças e jovens do sertão do Cariri neste momento de pandemia. Com um projeto político-pedagógico orientado por conhecimentos ligados às áreas da Arqueologia Social, Gestão Social, Turismo Comunitário, Cultura e Comunicação Social, a instituição encontrou nas lives e outras atividades remotas uma maneira de continuar difundindo o patrimônio cultural da Chapada do Araripe.
A visita aos museus orgânicos – erguidos dentro das casas dos mestres populares da região onde as crianças e jovens aprendem sobre reisado, artesanato, entre outros saberes – continuam acontecendo, só que virtualmente. “Convidamos também para as lives pessoas que já tinham feito trabalhos científicos relacionados aos nossos temas para falar sobre suas pesquisas”, conta a diretora Fabiana Barbosa.
Para as crianças, foram pensadas atividades diversas com ênfase na cultura e ludicidade. “Como temos muito forte este aspecto de estar em contato com os laboratórios, com os acervos, com os objetos arqueológicos, alguns educadores foram até a Fundação para gravar vídeos sobre temas como mitologia, arqueologia, arte e música para disponibilizar para elas.” Geralmente, uma ou duas atividades são enviadas semanalmente. “Ficamos com esta proposta porque sabemos que as crianças já estão com muitas atividades da escola e não queremos sobrecarregá-las”, explica a diretora.
As trocas acontecem, sobretudo, por meio de aplicativos de mensagem como o Whatsapp. Quando a criança não possui acesso direto à ferramenta, a instituição se encarrega de pensar em outra estratégia, por exemplo, enviar para o celular de um parente. “Acredito que a cultura da tecnologia já está instituída e que devemos continuar de forma híbrida, mesmo com o fim da pandemia, por exemplo, com as transmissões ao vivo que dão conta de alcançar pessoas que não podem estar aqui fisicamente”, diz Fabiana.
Desde sua fundação, a organização educativa opera com o modelo de autogestão, isto é, de que a própria comunidade é responsável pelas decisões locais. O passeio pelo museu, inclusive, é organizado e guiado por crianças, que a cada vez que explicam o acervo para um novo visitante têm a chance de se apropriar ainda mais da sua herança cultural.
Ao mesmo tempo que esta relação de pertencimento tem sido essencial para a gestão dos processos à distância, tem também deixado claro a importância de estar perto. “Neste sentido, o impacto foi mais afetivo, emocional mesmo. A Fundação Casa Grande é um espaço de acolhimento, de troca, de aprendizagem para as crianças e jovens desta comunidade e este contato físico é uma das nossas maiores saudades”, diz Fabiana.
Outra frente importante de atuação da Fundação Casa Grande Memorial do Homem Kariri é o fomento à cadeia produtiva da economia da cultura em toda região do Cariri Cearense. Nesta perspectiva, a Fundação apoia produtos e serviços no âmbito da museologia, turismo cultural, gastronomia, entre outros empreendimentos sociais que geram renda para a comunidade local.
Um exemplo são as pousadas domiciliares que permitem que os turistas (em média, 60 mil por ano) se hospedem na casa dos moradores, vivenciando de perto a experiência do Cariri. Com a chegada da pandemia, no entanto, as pousadas tiveram que fechar temporariamente as portas. O contratempo necessário tem sido usado para fazer pequenas reformas e outras manutenções. “Eu, por exemplo, sou educadora no projeto, mas também tenho uma pousada domiciliar. Estou usando este momento para organizar o que estava faltando no quarto que eu alugo e trazer melhorias”, conta Fabiana.
O momento trouxe também um estreitamento com outras instituições e projetos do território. “A gente já era muito aberto para a participação em programações de outras instituições e essas parcerias foram agora fortalecidas”, conta Fabiana.
Realizado pelo Centro de Referências em Educação Integral, em parceria com diversas instituições, a campanha #Reviravolta da Escola articula ações que buscam discutir as aprendizagens vividas em 2020, assim como os caminhos possíveis para se recriar a escola necessária para o mundo pós-pandemia.
Leia os demais conteúdos no site especial da #Reviravolta da Escola.