05/05/2020

Em meio à crise de Covid-19, escolas inovadoras desenvolvem estratégias para apoiar suas comunidades

Com as aulas suspensas em razão da pandemia de Covid-19, as escolas se veem diante de um desafio inédito até então: como continuar apoiando alunos e suas famílias em um momento onde as portas devem permanecer fechadas?

A resposta não é simples, mas escolas inovadoras têm apostado no vínculo com seus territórios para encontrá-la.  O fato dessas organizações educativas já se movimentarem a partir da articulação com seu entorno tem mostrado, neste cenário incerto, como assumem um papel de apoio e referência para seus territórios durante a pandemia de Covid-19  das mais diversas formas.

Na Escola Municipal Anne Frank, por exemplo, as estratégias de respaldo têm passado por uma abordagem intersetorial. Localizada no bairro de Confisco, em Belo Horizonte (MG), uma área limítrofe com o município de Contagem (MG), a escola compõe um grupo na rede social WhatsApp com demais representantes da educação, saúde, cultura, assistência social, além de lideranças comunitárias dos dois municípios. 

“Como muitos alunos que estudam na escola moram na outra cidade, tomamos esse cuidado para que não fiquem desamparados e as informações cheguem dos dois lados. A nossa escola já trabalha com a intersetorialidade há muito tempo, desde a “Rede Confisco pela Paz”, que atua em defesa dos direitos desta comunidade, e acreditamos que este deve ser o caminho”, conta a diretora Mariana Carraro.

Outra estratégia adotada pela escola tem sido a ativação das suas redes sociais a fim de que alunos, familiares e todos os atores da comunidade escolar possam estar mais próximos e interagir. “Criamos um grupo no WhatsApp porque percebemos o quanto era importante esse cuidado com a comunidade escolar, que se via insegura diante desta situação que era muito nova para todo mundo”, conta a diretora. 

Rede do bem

horta

Na escola Paulo Freire, as hortaliças e frutas foram doadas para famílias

Também situada em Belo Horizonte, a Escola Municipal Professor Paulo Freire tem procurado atender e proteger o bem-estar da comunidade. Após a determinação da prefeitura de ofertar cestas de alimentos para as famílias em substituição à merenda escolar, a instituição viu que podia colaborar ainda mais.

As hortaliças e frutas da horta e agrofloresta foram doadas para famílias da comunidade, dando aos estudantes mais uma oportunidade de usufruir do que eles ajudaram a plantar. “Por ser uma comunidade vulnerável, desde o princípio da pandemia de Covid-19 nossa preocupação era a alimentação, pois muitos alunos dependem da escola para ter uma alimentação saudável”, conta  Erika Cecílio, coordenadora do programa Escola Integrada da escola. 

Esta mobilização em prol do entorno é antiga, explica a diretora Adriana Souza, e perpassa o DNA da própria escola, que sempre foi vista como um ponto de encontro e referência no bairro. “Conhecemos muito bem a história da nossa comunidade porque temos um trabalho extenso de abrir as portas da escola, de auxiliar as famílias, conhecemos a fundo suas histórias e isso ajuda bastante neste momento de crise, no sentido de apoiá-los e de identificar quem mais necessita.”

Já o Instituto Federal do Paraná Campus Jacarezinho tem endossado as medidas sanitárias de combate ao novo coronavírus. A instituição está produzindo e doando frascos de álcool gel 70% em locais com a Secretaria Municipal de Saúde, prefeitura, delegacia de polícia, e irá atender na próxima semana aldeias indígenas a pedido da representação da Funai no Paraná. “As reservas estão em uma situação caótica e estão precisando de ajuda”, conta o diretor Rodolfo Fiorucci, comentando ainda que já iniciaram a produção de sabonetes e máscaras de pano para distribuição. 

álcool gel

A IFPR Jacarezinho já doou mais de 300 frascos de álcool gel

Para além destas medidas, a IFPR vem produzindo informação de qualidade por meio de debates online. No final de abril, Rodolfo entrevistou em live o professor César Nunes, da Faculdade de Educação da Unicamp, para falar sobre o presente e futuro da educação frente aos impactos causados pela pandemia da Covid-19.

“Tentamos manter as pessoas informadas, levando um debate qualificado. Também fizemos uma live com um médico para tirar dúvidas sobre a própria doença e outra com os professores da escola para tratar de necropolítica.”

Covid-19: presente e futuro

Os diálogos têm ajudado a não só enfrentar a complexidade do atual momento, mas também a refletir como será o cenário pós-pandemia. “Penso que teremos que encontrar saídas que provenham da base social e não dos líderes, o que é uma dificuldade porque temos um sistema educacional totalmente equivocado. Para mudá-lo, temos que pensar numa lógica de aprendizagem e não de instrumentalização do ser humano”, reflete Rodolfo.

Erika, da escola Professor Paulo Freire, traz apontamentos parecidos: “Tenho pensando que vamos ter que refletir muito sobre o que é primordial, sair de vez desta lógica conteudista. O papel da escola não é só transmitir conteúdo, vamos ter que, por exemplo, dar um suporte emocional imenso nessa volta”.

E o caminho para tanto não poderia ser outro senão o do acolhimento e da escuta. “Na escola, fazemos círculos restaurativos, onde elencamos um tema para discussão. Os alunos ficam em círculo e a ideia é ir fazendo rodadas com perguntas e quem se sente à vontade fala. Acredito que este será um caminho de acessar as crianças, de escutá-las sobre o que vem sendo esse período”, aponta Adriana.

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