06/04/2021

Como uma escola vem abordando com as crianças diversidade cultural e ancestralidade em meio ao isolamento social

Reviravolta da escolaO próprio nome da Escola Pluricultural Odé Kayodê, situada em Goiás (GO), já resume bem a proposta pedagógica da organização. Na língua iorubá, odé kayodé significa “caçador de alegria” e é esta busca que vem orientando corpo docente e alunos desde a fundação da escola comunitária em 2004. 

Com uma matriz curricular estruturada a partir dos saberes das culturas indígenas e afro-brasileira, a escola atende crianças da Educação Infantil e Ensino Fundamental I, valorizando a diversidade e ancestralidade dos sujeitos ali presentes, além da importância da ludicidade e afetividade para uma educação verdadeiramente transformadora.

Para entender como a Escola Pluricultural Odé Kayodê vem atuando neste cenário de pandemia, o Movimento de Inovação na Educação conversou com a diretora Rosângela de Oliveira e a coordenadora pedagógica Emicléia Alves Pinheiro sobre as ações desenvolvidas em cada uma das 5 dimensões de uma organização educativa inovadora: metodologia, gestão, currículo, ambiente e intersetorialidade. 

Gestão

Com a instauração da pandemia, a primeira iniciativa da gestão foi suspender por 15 dias as aulas presenciais para melhor entender a gravidade do cenário e planejar o que poderia ser feito para contorná-lo. “Mas a gente não ficou parado neste período porque percebemos a necessidade de troca de informação, de mutuamente nos acolhermos”, conta Emicléia Alves Pinheiro, coordenadora da escola. 

Para atender essa demanda, foram organizados diversos encontros online, bem como foi feita a animação do grupo de Whatsapp com os professores e com as famílias.“Estas trocas deixaram a certeza de que não era hora da escola sair de cena, mas justamente o momento dela cumprir seu papel. Começamos a ver que existia a possibilidade de aprender – e muito – neste cenário.” 

Com a confirmação de que a pandemia não passaria tão rapidamente, a escola passou a se organizar para dar continuidade ao currículo de maneira remota. Antes disso, no entanto, mapeou os alunos que não tinham acesso à tecnologia. “Como estamos em uma cidade pequena, foi mais fácil fazer esse diagnóstico. Decidimos então que, no caso dos alunos sem acesso à tecnologia, enviaríamos o material impresso para suas casas.” 

Atualmente, as crianças participam de três encontros síncronos remotos com os educadores por semana. Além disso, sempre que surge a necessidade, há um educador a posto que pode ser acionado pela criança ou família. “Começamos 2021 percebendo que ainda não era o momento de nos encontrarmos presencialmente, mas que podíamos aproveitar a experiência acumulada ao longo do ano anterior para intensificar nossas trocas”.

A escola optou também por não abrir matrículas no início deste ano para a Educação Infantil. “Percebemos que não seria possível receber novas crianças sem conhecê-las, mas continuamos com as crianças que já estavam conosco”, explica Emicléia.  

Metodologia e Currículo

Para dar continuidade ao trabalho pedagógico, a escola passou a produzir “blocos” de materiais para serem compartilhados com os alunos com algumas referências e orientações. “De início, o bloco trazia mais informações sobre a Covid-19, depois incorporou reflexões e outros temas relacionados à nossa matriz curricular”, conta Emicléia. A coordenadora frisa ainda que o material não é um bloco de exercícios. “Pode ser uma história para ouvir, um vídeo para assistir, um texto para ler com a família, uma arte.” 

Tendo como eixos curriculares os saberes filosóficos das culturas indígenas e afro-brasileira, a escola, por exemplo, organizou um bloco sobre ancestralidade, por meio do qual as crianças foram instigadas a saber mais sobre seu nome, suas raízes, sobre as memórias de família. “Tem uma atividade onde pedimos para as crianças escolherem e falarem sobre um objeto da família que tem passado de geração em geração”, exemplifica a coordenadora. 

Outra atividade retomada este ano de forma remota foi o Cinevila. Toda segunda-feira, as crianças são convidadas a assistir de suas casas uma produção audiovisual para depois comentarem. Outra possibilidade é o compartilhamento com os alunos de um vídeo sobre um mito que contemple a diversidade cultural brasileira. Além de encantar as crianças, o mito serve de fio condutor para o bloco que será trabalhado pelos educadores. “Agora estamos trabalhando com a cultura indígena, por isso enviamos para eles o mito da origem da mandioca”, conta Emicléia.

Com as turmas em processo de alfabetização, uma das estratégias utilizadas foi a troca de cartas. “As crianças produziram cartas coletivas, recados para a comunidade, com o apoio dos pais que receberam orientações dos professores”, conta a diretora Rosângela de Oliveira.

Ambiente e Intersetorialidade

Localizada em meio a uma vegetação vasta, com espaços como o Jardim das Formas, o parque, o Caminho Inca, o Quilombo, o Memorial Indígena e a brinquedoteca, que reforçam a proposta pedagógica da organização da diversidade cultural, a Escola Odé Kayodê sempre foi um oásis para seus alunos. No entanto, a necessidade de isolamento social exigiu que estas referências do território fossem exploradas de outras formas.

No entendimento de que o território que nos rodeia se faz presente em nossas manifestações culturais e comunitárias, a saída foi estreitar estes laços. “Sabemos que a tecnologia não substitui esta vivência ao vivo, mas são ferramentas que nos ajudam a proporcionar este contato. Não temos quatro horas de criança sentada em frente à mídia, mas temos vídeo de danças, de atividades físicas, de contação de histórias. Até jongo ao vivo já teve”, diz a diretora Rosângela. 

Para Emicléia, um ganho do atual momento tem sido a oportunidade de “adentrar” a casa das crianças, mesmo que de forma virtual, constatando a diversidade que existe em cada contexto. “E quando falo de diversidade não é somente da socioeconômica, mas também a cultural. Outro dia uma criança nos mostrou por vídeo o avô cantando moda de viola, o que foi um presente para nós.”

O que é a #Reviravolta da Escola?

Realizado pelo Centro de Referências em Educação Integral, em parceria com diversas instituições, a campanha #Reviravolta da Escola articula ações que buscam discutir as aprendizagens vividas em 2020, assim como os caminhos possíveis para se recriar a escola necessária para o mundo pós-pandemia.

Leia os demais conteúdos no site especial da #Reviravolta da Escola.

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