22/11/2018
Os dados mais recentes do Censo Nacional de Ciência para Educação, realizado em 2016, mostram que cerca de 25 mil pesquisadores se dedicam a linhas de estudo relacionados com o tema educação. Graças a esses números, nasceu a Plataforma Ciência para Educação (CpE), que reúne um acervo totalmente gratuito com mais de 600 mil documentos de pesquisa.
Mas como toda essa produção acadêmica pode ajudar na inovação na educação do país? Para o professor Bruno Bontempi Júnior, chefe do Departamento de Filosofia e Ciências da Educação (EDF) da Universidade de São Paulo, a pesquisa sobre esse tema no Brasil é extensa e tem uma característica muito própria por ser multi e interdisciplinar.
“Ela se torna relevante por abordar e atingir diversos aspectos da educação. Seja em termos de diagnóstico, seja em termos de intervenção, ela propõe melhorias nas relações escolares, inovações e novos elos entre teoria e prática”, explica o professor.
Para Bontempi, quando se fala em inovação na educação, muitas vezes a primeira coisa que se pensa são métodos digitais e tecnologias aplicadas em sala de aula. No entanto, ele afirma que o “repensar crítico” é a verdadeira mudança a ser implementada.
“Temos que entender quais são as barreiras que impedem, por exemplo, a escolarização e a sociabilidade dentro das escolas, e, para cada uma dessas questões, pensar em soluções específicas e inovadoras“, comenta.
Bontempi acredita que os estudos ajudam a chancelar soluções inovadoras por meio do ponto de vista cientifico, com utilização de procedimentos e referencial atualizado.
“A pesquisa em educação pode criar mais canais com a população escolar, dar voz a crianças e jovens, ajudar a organizar currículos e práticas, e, por fim, atuar de forma que a relação de ensino aprendizagem seja menos imposta e mais desejada”, completa.
“Para mim, inovação é identificar quais as travas que nos impedem seguidamente que atinjamos bons patamares, seja em avaliação mais tradicionais, seja em avaliações mais sutis, como as relações humanas dentro das escolas”, Bruno Bontempi
Segundo Robert Verhine, coordenador para a área de Educação na Capes, principal agência de fomento à pós-graduação do país, aproximar a pesquisa do dia a dia escolar é um dos principais desafios da entidade.
“Nós temos hoje uma quantidade muito grande de pesquisa sobre o toma, o que é excelente. E a pesquisa em educação nos ajuda a entender melhor os processos e as relações escolares. Porém, ainda há uma produção científica que não necessariamente se volta à escola”, diz.
Em busca dessa maior proximidade entre universidade e escola, nasceu na Universidade Federal do Pampa (RS) o GRUPI – Grupo de Pesquisa em Inovação Pedagógica na Formação Acadêmico-Profissional de Profissionais da Educação, dedicado à formação acadêmico-profissional de educadores.
Segundo a professora doutora Elena Maria Billig Mello, que lidera a equipe, a ideia é promover práticas educativas entre professores experientes e iniciantes, entre universidade e escola. O objetivos é um só: reconstrução do conhecimento e proposições transformadoras da realidade.
“Diferente de compreender que a formação de professores ocorre em processos distintos, denominados de formação inicial e de formação continuada, o GRUPI posiciona-se pela concepção de formação acadêmico-profissional”, explica a professora.
Criado em 2016, o GRUPI conta hoje com oito professores e 23 acadêmicos de graduação e mestrandos. Os pesquisadores atuam em três linhas de estudo: gestão da educação na perspectiva da criatividade e da inovação; políticas de inovação na formação acadêmico-profissional do magistério/da educação; e práticas educativas e inovação pedagógica.
Como forma de estimular e inspirar experiências de inovação pedagógica, o GRUPI organizou no início de novembro o II Seminário Inovação Pedagógica: formação acadêmico-profissional, no campus de Bagé da Unipampa.
Elena explica que a ideia é fortalecer a vontade de transformação das situações sócio-educacionais, fator que agregou os participantes do evento na sua primeira edição em 2017. ” Espera-se que seja um espaço-tempo para revisitar e refletir criticamente sobre a prática educativa, com possibilidade de proposições diferentes e criativas”, explica.
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