28/07/2020

Afinal, o que é o ensino híbrido?

As discussões sobre a retomada das aulas no contexto pós-pandemia de Covid-19 têm colocado em evidência um expressão: ensino híbrido. Isto porque, desde a suspensão das atividades presenciais impostas pela necessidade de isolamento social, diversas escolas e redes públicas de ensino precisaram se valer de estratégias remotas de ensino para continuar ofertando um ambiente de aprendizagem para os estudantes.

Além deste período ter salientado a relevância de se pensar um currículo integrado às novas tecnologias, os novos protocolos de saúde impõem que o eventual retorno seja gradual, com turmas menores, em uma espécie de rodízio de alunos – características que alicerçam o ensino híbrido.

“Muitas vezes, se utiliza esta terminologia para se referir apenas à combinação entre o ensino remoto e presencial. Mas a definição de ensino híbrido já avançou. Há algo maior por trás que é trazer o potencial do online para personalizar a aprendizagem presencial”, explica a professora Lilian Bacich, autora do livro “Ensino Híbrido: Personalização e Tecnologia na Educação“.

Mas de que maneira? A educadora aponta dois principais atributos das interações online: favorecerem que os alunos aprendam em seus tempos e ritmos e a riqueza de dados que este ambiente traz. “No ensino remoto, o aluno tem maior flexibilidade na gestão do seu tempo, podendo, por exemplo, voltar ou pausar um vídeo. Além disso, o online traz muitas possibilidades de registro e esses dados podem ser usados para problematizar as interações presenciais e focar no que realmente importa, o aspecto humano”, aponta Lilian.

Cláudio Sassaki, cofundador da Geekie, acrescenta: “O ensino híbrido possibilita que se supere aquela visão de que toda a turma precisa estar fazendo exatamente a mesma coisa. Costumo dizer que ele torna visível o que é geralmente invisível. Isto é, aquilo que no modelo tradicional só se percebe depois da avaliação, o modelo híbrido permite acompanhar muito mais de perto.”

O modelo também demanda a revisão do papel do professor e do próprio aluno, que assume o protagonismo do seu aprendizado principalmente nos momentos em que estuda sozinho, aproveitando as ferramentas online. Nos encontros presenciais, por sua vez, valoriza-se ainda mais a interação entre alunos e professores. “Estes momentos abrem espaço para a colaboração, trabalhos em grupo, criatividade, pensamento crítico e empatia”, diz Cláudio.

Desafios

Entre os principais empecilhos para que o modelo de ensino híbrido seja uma realidade no país está a desigualdade de acesso à internet e ferramentas digitais por grande parte da população. “Há a possibilidade do aumento do gap digital, ou seja, a desigualdade socioeconômica pode ser exacerbada. Por isso, é fundamental a atuação do poder público e de organizações da sociedade civil no combate a essa distorção”, aponta Cláudio.

Outro desafio é a falta de formação do corpo docente para a fluência digital. “Para contornar esse problema, os professores terão que passar por uma formação continuada para aprenderam a articular estes dois aspectos: o digital e o presencial. Não se trata de somente fornecer acesso à tecnologia. O ensino híbrido traz uma metodologia que exige rever as próprias práticas pedagógicas”, comenta Cláudio. 

Como um caminho a ser seguido Lilian aponta o formato das comunidades de aprendizagem. “Trabalhei desta maneira com a formação de professores na rede de Ponta Grossa (PR). Quando você tem uma comunidade de professores que, em grupo, identificam quais são as dificuldades de cada um, você consegue colocar em prática essa personalização que a gente defende, trabalhando com homologia de processos. Assim, os professores se formam através de uma metodologia ativa e se sentem mais confortáveis para aplicá-la com seus alunos.”

 

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