Repensando a educação, jovens desenvolvem ações para um mundo livre de pandemias

Reviravolta da escolaAgir localmente e pensar globalmente. Impossível não relacionar o mote por trás dos ODS (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável) da ONU com o cenário trazido pela pandemia, que tornou evidente a necessidade de buscarmos respostas territorializadas para um problema mundial.

Baseados, sobretudo, na sustentabilidade e na equidade, os ODS, lançados em 2015, preconizavam a urgência de trazermos para a educação um olhar mais sistêmico para as questões que nos afetavam enquanto sociedade. Veio então a pandemia e o apelo ganhou fôlego: nunca esteve tão claro que precisamos de um currículo que nos previna de novos colapsos.

Não é de hoje que a estudante do Ensino Médio, Carolina Lindquist, de 17 anos, atua com esta perspectiva. Em 2019, ela fundou o projeto Globalizando, com o intuito de democratizar e inovar o ensino de idiomas no Brasil. Para tanto, passou a usar os ODS como fio condutor da aprendizagem das línguas, colocando os alunos para refletir e questionar os problemas locais.

“Além da barreira financeira, percebia que o ensino de línguas estava muito pautado em decorar regras gramaticais, em um aprendizado passivo que era muito desencorajador, trazendo temas desconectados da realidade das comunidades das pessoas”, conta.

Para a estudante, este formato contrastava com aquela que deveria ser a finalidade máxima de aprender novas línguas: se tornar um cidadão global de um mundo com cada vez menos barreiras. “O que fazemos no Globalizando é trazer a vivência dos alunos para a sala de aula como um conhecimento muito importante, um currículo conectados à vida, o que possibilita um aprendizado muito mais ativo”.

Atualmente, o projeto oferece sete idiomas e articula uma média de 400 mentores – como são chamados os voluntários que oferecem as aulas – e 920 mentorados – como são chamados os aprendizes. “Para escolher os mentores, realizamos um processo seletivo e então os colocamos em contato com mentorados, que são pessoas de baixa renda”, explica Carolina.

Por conta da pandemia, todas as trocas acontecem no ambiente online e partindo da premissa que ambos os lados têm algo para ensinar e aprender. Na última semana, o Dia Internacional da Mulher oportunizou discutir o ODS 5, que defende a igualdade de gênero. “Fizemos rodas de conversa com diferentes participantes sobre este tema. E nessa relação horizontal vamos construindo um mundo melhor”.

ods

Cuidar do planeta

Recém-formado no Ensino Médio, Marcelo Natal, 17 anos, morador de Aparecida do Rio Doce, na zona rural de Goiás, vem também fazendo sua parte. Apaixonado pela natureza desde criança, quando ouvia seus pais lhe contarem sobre os animais e as plantas da fazenda, o jovem sentiu a necessidade de agir após uma aula sobre queimadas no cerrado.

Montou então ao lado de alguns colegas o projeto Folhas que Salvam, com a missão de promover ações em prol do meio ambiente tais como mutirão de plantio de árvores, coleta de lixo e palestras de conscientização.

Divulgadas nas redes sociais, o alcance das ações foi se expandindo, o que levou à criação do programa de embaixadores do projeto. A iniciativa convoca os voluntários a realizar missões em seus territórios que vão desde produzir relatórios sobre as especificidades ambientais do local até pressionar o poder público por medidas. “Nesta semana, por exemplo, estão fazendo um levantamento dentro de suas casas para entender como podem ter hábitos mais sustentáveis. Hoje, são 97 embaixadores em todos Brasil, presentes em 22 estados e no DF. Eles estão organizados em três turmas, cada uma com duração em média de seis meses”, explica.

Marcelo acredita que a pandemia que vivemos é resultado da negligência com que tratamos as questões ambientais. “Se não mudarmos, é muito provável que passemos por outra pandemia. Por conta do desmatamento, as doenças que antes viviam dentro das florestas estão chegando até nós.”

Esta revolução, no entanto, começa com pequenas mudanças, diz. “Vejo que as escolas ainda tratam a Educação Ambiental de forma superficial. Por isso, quero cursar jornalismo para dar maior visibilidade para essa causa, pois acredito que comunicação é capaz de nos transformar.”

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