Nativa da Índia, é fácil entender porque a Moringa oleifera ganhou a alcunha de “árvore milagrosa” ou “árvore da vida”. Além de suas folhas e frutas possuírem um alto valor nutritivo e apresentarem propriedades medicinais, suas sementes são excelentes filtros orgânicos, capazes de purificar a água de maneira rápida e barata.
Apaixonado por Ciências desde os tempos da escola, Hudson Terra viu nesta descoberta uma oportunidade de atacar dois problemas vivenciados por sua comunidade: a situação de insegurança alimentar e a poluição do rio Barigui, que banha a região metropolitana de Curitiba (PR).
Tudo começou quando Hudson estava no 3º ano do Ensino Médio e foi convidado para participar de uma Feira de Ciências organizada pela Fiocruz e que estimulava os alunos a desenvolverem projetos focados em propósitos locais. Ao lado do seu grupo, Hudson passou a investigar a situação da água do rio Barigui, seu grau de toxicidade e o que poderia ser feito para melhorá-la. “Sabíamos que não dava pra torná-la totalmente potável. Então tivemos a ideia de fazer um sistema de filtragem para irrigar hortas comunitárias do entorno”, conta.
Sabendo da realidade socioeconômica dos moradores que não poderiam investir em artefatos custosos, os estudantes foram atrás de meios naturais, como sementes, que auxiliassem o processo de decantação, tornando a água filtrada a ponto de poder ser utilizada na irrigação sem prejudicar a saúde das pessoas. E assim chegaram às sementes de moringa oleifera e criaram o projeto Desintoxicação: folhas que salvam, águas que transformam.
A proposta inicial era distribuir kits com as sementes germinadas para a montagem dos filtros, possibilitando que a comunidade local irrigasse e cultivasse seus próprios alimentos em hortas comunitárias. “Tendo este acesso às sementes, qualquer pessoa poderia montar e manter este filtro, democratizando os sistemas de filtragem que costumam ser super caros”, explica Hudson.
Com a chegada da pandemia, no entanto, foram necessárias mudanças nos planos. Diante da demora da aprovação por parte da vigilância sanitária para iniciar a implementação do projeto e vendo que a situação das famílias rapidamente se deteriorava, os jovens foram atrás de outras soluções. “Neste momento, entrou minha vó, que tem um canteiro em casa e ensinou meu grupo a plantar, cultivar, irrigar a horta. Do que colhíamos ali, mais a arrecadação de doações, começamos a distribuir sopas para a comunidade”, conta o jovem.
Outra frente criada foi para a disseminação deste conhecimento sobre filtragem a partir de elementos naturais e outras ações em prol da sustentabilidade. “Estamos desenvolvendo uma cartilha que explicará, de forma lúdica, como desenvolver o método. Também estamos com projetos de conscientização nas escolas municipais de Curitiba, com a proposta de mostrar para crianças e adolescentes a sustentabilidade das hortas comunitárias e incentivá-las a fazer o mesmo”.
Para Hudson, atitudes e projetos como estes são essenciais para mudar a sociedade como um todo. “Eu mesmo já passei por situações muito difíceis ligadas às insegurança alimentar. Acredito que a gente precisa dar a oportunidade para que a transformação aconteça, assim como aconteceu comigo”, finaliza.