13/10/2020
Por Eda Luiz
Um dos grandes problemas da educação brasileira ainda é a formação dos docentes. Isto porque quando se termina uma graduação de Pedagogia tem-se teorias, conhecimentos de importantes pesquisadores, geralmente estrangeiros, e as experiência de muitos anos em sala de aula como estudante, mas não a prática de como ser professor e enfrentar as dificuldades e potencialidades da sala de aula.
Um caminho para contornar este desafio e estreitar a relação entre teoria e prática tem sido a formação contínua em serviço e o intercâmbio entre educadores. É sobre isso que iremos ler no livro “Educador Transformador: relatos da experiência de intercâmbio de educadores do Educandário Humberto de Campos em escolas transformadoras”, da Editora Instituto SWA.
Nesta experiência, os educadores desta instituição viajaram por 10 escolas de vários estados brasileiros e, em duplas ou trios, levaram muitas perguntas buscando informações sobre as escolas visitadas, o que resultou no livro.
Uma dessas escolas foi o CIEJA Campo Limpo, situado na zona sul da capital paulista e do qual fui coordenadora geral por 21 anos. Com um público formado por adolescentes, jovens, adultos e idosos – todos desprovidos do acesso à educação formal -, o CIEJA há 22 anos assume o papel de promover o direito à escolaridade e à igualdade a partir da inclusão de todas e todos e da própria reflexão sobre a exclusão a qual estão expostos.
Eis o grande diferencial dessa proposta pedagógica, pois os fatores de problematização aparecem no decorrer do processo educativo de forma conexa com os sujeitos envolvidos e suas mediações ambientais e sociais, criando uma rede de proteção e de enfrentamento à discriminação e à violência e possibilitando o empoderamento para viverem seu cotidiano de maneira autônoma e cidadã.
Em linhas gerais, a formação dos educadores no CIEJA Campo Limpo tem caráter continuado, contando com encontros semanais nos quais todos são envolvidos e um tempo é dedicado a grupos de estudo por interesse, sob a coordenação da equipe gestora. Há momentos de encontro entre as áreas do conhecimento para refletirem sobre suas práticas, dar prosseguimento aos projetos e revisitarem o PPP.
A partir da minha experiência e da leitura do livro, podemos elencar alguns aspectos pertinentes à formação docente no Brasil, no que diz respeito à formação individual, em serviço e por intercâmbio:
1- A formação individual precisa de:
– um forte apoio dos pares e gestores para superar as dificuldades encontradas na sala de aula;
– meios para tornar-se um professor-pesquisador, qualificando-se para realizar uma ação-reflexão-ação;
– uma identidade criada através de condutas éticas para que se possa fazer o que realmente se acredita;
– engajamento político para ser autônoma e defender direitos, princípios e valores em um currículo flexível e significativo;
– meios para tornar o professor mediador, confrontando sua prática com a realidade dos alunos;
– objetivar seu trabalho conhecendo a comunidade onde a escola está inserida, seus valores, suas potencialidades, sua cultura, suas dificuldades para que uma transformação possa ocorrer;
– uma escuta ativa e um diálogo aberto;
– boas relações interpessoais para que as áreas do conhecimento não fiquem fragmentadas.
2- A formação continuada em serviço deve:
– compor grupos de estudo para dar sustentação à prática;
– compor duplas ou trios para criarem vínculos na inter ou multidisciplinaridade;
– prever a construção participativa e coletiva do Projeto Político Pedagógico.
3- Por fim, a formação por intercâmbio deve considerar:
– que a relevância acontece quando se (re)aprende a prática a fim de favorecer a ensino-aprendizagem;
– questionar PORQUE, COMO, QUANDO, QUANTO mudar;
– que outras teorias e elementos práticos das atividades docentes irão formar uma nova base de sustentação do trabalho pedagógico;
– que a comparação é um processo de percepção das diferenças e semelhanças e de se assumir valores nessa relação de mútuo reconhecimento.