Para entender como os estereótipos de gênero afetam negativamente a vida acadêmica das meninas basta olhar para as áreas de ciências, matemática e tecnologia, também chamadas pela sigla oriunda do inglês STEM (Science, Technology, Engineering, Mathematics). A ainda escassa participação feminina em relação à masculina nestes segmentos evidencia como são necessárias políticas e ações que incentivem as meninas a seguir estas carreiras.
Foi pensando nisso que surgiu o projeto social ElaSTEMpoder, formado por uma equipe de 20 jovens espalhados pelo Brasil de diferentes áreas e formações. “Desde pequenas, nós, meninas, recebemos estímulos muitas vezes limitantes. Não somos estimuladas a nos aventurarmos e explorarmos o mundo ao nosso redor mas sim a sermos “boas meninas”: delicadas e frágeis. Na escola, somos levadas a acreditar que somos ruins em matemática ou em outras matérias dominadas por meninos. Nesse contexto, surge a necessidade de quebrar esses padrões impostos, para que as meninas possam ter o poder de escolha sobre suas vidas e carreiras”, compartilha Andressa Teixeira, uma das idealizadora da iniciativa.
Com este mote, o ElaSTEMpoder começou a ser pensado na III Conferência de Protagonismo Juvenil (CPJ), em janeiro deste ano, e sua criação foi oficializada poucos dias depois. “Começamos compartilhando histórias e conquistas de mulheres na área de Ciências, Tecnologia, Engenharia e Matemática”. A partir daí, o projeto cresceu rápido e, no fim de março, lançou a primeira edição do curso online Empodera, voltado para meninas do Ensino Fundamental e Médio e dividido em quatro módulos.
O primeiro, chamado “Soft Skills”, tem por objetivo iniciar um processo de autoconhecimento, refletindo sobre seus interesses e propósitos. A partir daí, segue-se para a etapa “Ferramentas de Inovação”, na qual elas aprendem como alcançá-los. No módulo “Brasil”, elas são apresentadas a diferentes problemáticas do País para aprenderem para onde podem direcionar suas ações e, por último, no “Mão na Massa”, as meninas, com o apoio de suas mentoras, desenham um projeto de impacto social.
“No último módulo, recebemos mais de 450 candidatas do Brasil e Portugal, das quais 33 foram selecionadas e desse número foram desenvolvidos 11 projetos individuais ou em grupos. Na edição atual, tivemos o dobro de alunas aceitas e esperamos resultados ainda maiores. Hoje, estamos caminhando para o encerramento da segunda edição somando mais de 170 meninas impactadas diretamente, entre mentoras e alunas.”
Os impactos foram tão positivos que o projeto foi reconhecido pela It’s Your Life Foundation como uma iniciativa que está contribuindo com a comunidade neste momento de pandemia. “O reconhecimento foi essencial para ganharmos visibilidade e obter recursos para essas ações. Pudemos oferecer algumas bolsas de internet para meninas que tinham interesse no nosso curso, mas que não tinham acesso à internet. Desse modo, pudemos continuar crescendo mesmo diante de todas as adversidades que a pandemia trouxe”, conta Andressa.
Atualmente, o ElaSTEMpoder busca recursos para dar continuidade e ampliar suas ações, entre elas o plano de estruturar um programas para jovens universitárias. “Queremos muito aumentar nosso alcance para abranger cada vez mais mulheres, de diversas raças, classes e regiões”, diz Andressa. O caminho já começou a ser trilhado. Nessa semana, o projeto foi selecionado para um programa de incubação da Academia de Liderança da América Latina, que irá ajudar a melhor gerenciá-lo.
Para Andressa, não só as mulheres ganham como esta inclusão, mas a sociedade como um todo. “Criar espaços onde mulheres possam ser protagonistas é importante não só para atingirmos a igualdade mas também para o desenvolvimento da ciência como um todo, que ganha mais mão de obra capacitada e novos pontos de vista para seus estudos”, finaliza.