11/10/2019

“Não há educação libertadora se não pensamos que há algo do qual se libertar”, diz Pilar Lacerda

“A primeira coisa que temos que lembrar é: não há educação libertadora se não pensamos que há algo do qual se libertar e não há educação transformadora se não há desejo e possibilidade de mudança social.” Quem diz é Pilar Lacerda, diretora da Fundação SM, que palestrou no dia 9 de outubro, em São Paulo, para educadores de oitos escolas inovadoras de diferentes regiões do Brasil, integrantes do programa Inova Escola, da Fundação Telefônica Vivo.

Especialista em gestão de sistemas educacionais e ex-secretária nacional de Educação Básica do MEC, Pilar falou sobre a importância das políticas públicas de educação, sobretudo, no atual momento que vive o País. “Não é demagogia, mas cada vez mais a gente tem que pensar porque a escola brasileira não melhora. E aí eu cito Darcy Ribeiro que dizia que a crise da educação no Brasil não é uma crise, é um projeto.”

Nesta perspectiva, a educadora falou ainda sobre a importância de pensar uma outra escola. “Se a gente quer autonomia, infraestrutura adequada e salário digno é preciso pressionar para que isso seja política. A gente tem que lembrar que o nosso poder dentro da escola é muito maior do que a gente imagina. E a gente tem que ter claro que não existe política consistente sem projeto político pedagógico.”

Avanços e retrocessos

Apesar dos percalços hoje enfrentados, Pilar apontou também o avanço que a educação pública brasileira vivenciou nas últimas décadas, graças à organização dos movimentos sociais que pressionaram seus governantes por políticas públicas consistentes. “Hoje, nós temos 14 anos de escolaridade obrigatória. Professor tem plano de carreira, as escolas têm melhorado como um todo. Avançamos muito, mas todas essas coisas aconteceram porque movimentos [de inovação] como o que vocês fazem nas suas escolas começam a ganhar força. E esse trabalho dentro da escola é o microcosmo do que é fazer política.”

Outro apontamento feito pela especialista foi sobre falácias como a suposta qualidade das escolas da época da ditadura militar. “A classe média frequentava a escola pública porque a população periférica não estava na escola. E havia ainda outro funil: a prova de admissão que era realizada para entrar no Fundamental 2. A baixa escolaridade brasileira é resultado deste funil. Então quando alguém vem falar que a escola era boa nesta época é porque não tem o olhar crítico de enxergar que ali era a grande exclusão.”

Educação libertadora

Sobre a urgência de inovação na educação, Pilar destacou a necessidade se pensar a escola como um lugar de aprendizagens significativas. Para ela, quando a escola começa a se organizar não pelo conteúdo, mas pelos saberes e culturas dos alunos isso acarreta em uma mudança revolucionária, já que estamos acostumados com aquilo que Paulo Freire chamava de educação bancária e Freinet de “escolástica”, isto é, uma educação transmissiva, autoritária, que considera inertes as pessoas e as ideias.

“E educar não é isso. Educar é abrir uma janela com muitas paisagens para seus alunos olharem e escolherem a que eles querem. Eu não posso só mostrar a minha paisagem. Quanto mais uma pessoa estuda, mais oportunidades ela terá de fazer uma escolha com consistência”, finalizou.

 

 

 

 

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