23/05/2019
Na sala de aula, no pátio, na praça do bairro. Toda aprendizagem acontece em algum lugar e este espaço precisa ser compatível com as práticas pedagógicas que ali se desenrolam, favorecendo as trocas e criando um ambiente acolhedor e solidário. Tida como uma das dimensões da inovação, a ambiência é peça-chave para o processo de ensino-aprendizagem e passa mensagens diversas para estudantes, professores e comunidade.
Quem explica é Mônica Passarinho, ex-coordenadora da Escola da Toca. Para a especialista, o espaço físico materializa questões subjetivas de suma importância. “Quando a gente está falando de ambiência está falando de qualidade do ambiente, do que nos rodeia. O ambiente físico traz a linguagem do fluxo, de luz e sombra, de convite à participação ou de hierarquia, de maior ou menor liberdade para se expressar. Enfim, o espaço traz todos essas linguagens para o nível do concreto.”
E esse cuidado não está atrelado necessariamente a grande reformas e investimentos. “Quando se fala de espaço, de infraestrutura, é comum ouvirmos que não há verbas para reformas, mas mudanças muito simples já favorecem determinados comportamentos. Mudar a disposição de móveis, por exemplo, saindo da configuração onde o aluno olha para nuca do outro para uma que possibilita olho no olho faz as relações fluírem melhor”, explica.
Se pequenas mudanças no ambiente criam impactos, o ideal é quando o espaço é idealizado de acordo com o currículo da instituição. “São muitos os níveis de complexidade até chegar na permacultura, isto é, na cultura que olha para como nós habitamos o espaço em harmonia com natureza. Otimizar o uso de cada elemento natural ajuda a criar uma atmosfera muito mais saudável e agradável para as pessoas que participam deste ambiente. E quando você faz parte de um espaço que é bem cuidado, consequentemente, também se sente acolhido.”
A forma encontrada por Luca Rischbieter, pedagogo mentor do projeto Casa Labirinto/Labirintos Lúdicos foi o arquétipo do labirinto unicursal, no qual um único caminho leva ao centro. Na Casa, localizada em Curitiba (PR), a ferramenta é utilizada por diversas dinâmicas e atividades a fim de conduzir a ação das crianças para o autoconhecimento e a espontaneidade.
“O labirinto traz um novo paradigma de uma educação lúdica e interativa. São ambientes organizados para favorecer o brincar, a imaginação. A criança ao ser colocada nesse ambiente vivencia esse símbolo, que você não contempla, mas explora”, explica.
Nesta perspectiva, podem ser utilizados de acordo com os objetivos visados pelo educador mediador. “Em uma atividade que fizemos com crianças de 5 e 6 anos, elas tinham que ir até o centro do labirinto para falar algo que estavam sentindo. Uma das crianças agradeceu por ajudá-la a ajudar os amigos. Outra por colocar em palavras o que estava sentindo”, conta Luca.
Esse incentivo ao diálogo em todas as instâncias é a grande riqueza da experiência, segundo Luca. “Costumo dizer que os labirintos trazem uma metodologia da não metodologia. A verdade é que eles fazem da escola um ambiente de vida e a aprendizagem acaba sendo consequência dessa vivência e reflexão.”
Outro ponto que merece a atenção é a diversificação de ambientes de aprendizagem, revertendo a lógica do isolamento da escola, abrindo-a para se comunicar com o entorno. “Hoje, os espaço escolares, em sua maioria, passam a ideia de segregação. Os educadores pensam “essa é minha turma, só vou interagir neste lugar”. Mas a escola precisa dialogar com o bairro, com a praça e outros territórios que rompam com questões hoje cotidianas como o medo. Só assim ocorre a apropriação do lugar onde se está”, explica Mônica.
É essa articulação com as potências e saberes do território que alicerça a Oficina Escola de Luteria da Amazônia (OELA). Utilizando resíduos de madeiras amazônicas certificadas pelo FSC para a produção de instrumentos musicais, a OELA também desenvolve projetos voltados para os conhecimentos construídos pelas comunidades tradicionais da Amazônia.
“Procuramos levar para o alunos a importância do uso consciente do meio ambiente, valorizando a educação socioambiental no território amazônico. Para isso, realizamos projetos que estão ligados às necessidades locais”, explica Jéssica Freitas, coordenadora geral de projetos.
O Grupo de Trabalho em Conhecimento Tradicional (GTCT) da Associação das Comunidades Tradicionais do Bailique (ACTB), realizado no Arquipélago do Bailique, por exemplo, capacita comunidades tradicionais locais para produção de óleos, pomadas medicinais e também sabonetes para uso cosmético utilizando elementos regionais naturais como andiroba e pracaxi.
A região do Bailique fica no distrito de Macapá e abriga 51 comunidades com uma população de mais de dez mil pessoas. Essas comunidades desenvolveram um instrumento chamado Protocolo Comunitário, um instrumento de gestão territorial e dos recursos naturais, além de ser um mecanismo de empoderamento e autonomia local.
“A biodiversidade e os saberes ribeirinhos são de extrema importância para nós, porque os consideramos a verdadeira sabedoria, passada de geração em geração. E quando valorizamos o que temos ao nosso redor, colocamos esses sujeitos do território como autores do seu processo educativo”, aponta Jéssica.