01/10/2019

Saiba o que rolou no webinário “Protagonismo estudantil por uma nova educação”

Uma escola com sentido deve escutar o que seus estudantes têm a dizer. Em linhas gerais, assim pode ser traduzido o teor do webinário “Protagonismo estudantil por uma nova educação”, que ocorreu no dia 30 de setembro com a proposta de debater como construir projetos pedagógicos que atendam aos desejos, necessidades, identidades e direitos dos alunos.

Realizado pelo Movimento de Inovação na Educação, o encontro online foi o segundo de um ciclo organizado para 2019 com o intuito de debater a escola que queremos para o futuro. Para tanto, o bate-papo reuniu estudantes, escolas e organizações sob a mediação de Marcio Carvalhal, articulador da Conane Ceará, e de Vera Santana, da Companhia TerrAmar e membro do grupo articulador do Movimento.

Educação é pertencimento

Umas das experiências compartilhadas na ocasião foi a do projeto Conexão Felipe Camarão, do bairro homônimo de Natal (RN). Fundada em 2002, a iniciativa parte da cultura de tradição oral daquele território, preservada por patrimônios imateriais como o boi de reis e o teatro de bonecos, para educar crianças e jovens da comunidade, dando ênfase à vivência coletiva da cultura e sua diversidade.

Co-idealizadora do projeto, Vera Santana relembrou o contexto de sua criação. “Essa é uma população que passou por todas as dificuldades. A maior parte dos jovens quando terminava o Ensino Fundamental saia porque as escolas de Ensino Médio ficavam longe de Felipe Camarão. Além disso, não havia nenhum diálogo entre a escola do bairro e esses patrimônios imateriais”, conta. 

Por meio do Conexão, começou então a ser traçada uma aproximação entre estas duas esferas. “O boi de reis, por exemplo, foi para dentro da escola e esta passou a falar sobre cultura local, porque tinha muito conhecimento ali, mas a população se sentia sem cultura”. 

Para o estudante de Pedagogia Fabrício Cardoso, que foi aluno no projeto, este reconhecimento dos saberes locais foi peça-chave para seu senso de pertencimento e protagonismo juvenil. “Quando a gente não tem essa valorização, não consegue ver nosso potencial e acaba sendo silenciado. Em um contexto onde outras culturas se colocam como melhores, diálogos de projetos como o Conexão Felipe Camarão com as escolas são essenciais para que a gente possa sistematizar esses conhecimentos do território. É uma troca: do mesmo jeito que a gente precisa da escola, ela precisa desses saberes. E um aluno que sabe que sua voz está sendo ouvida, com certeza, vai criar laços com aquele ambiente e querer transformá-lo”, sintetizou o jovem.

Hoje músico, Abner Moabe, que também foi estudante no projeto, endossou a necessidade da escola compreender o contexto onde está inserida. “Ainda tem essa coisa de você entrar na escola e ela falar que aquilo que você sabe está errado e não entender que aquilo é sua cultura. O que a gente faz no projeto deveria, na verdade, estar dentro do próprio currículo formal da escola. Eu espero por este momento em que os muros da escola não separem uma coisa da outra, que haja uma integração verdadeira.”

Este embate entre os valores da escolarização e o conhecimento próprio dos território também foi apontado como uma questão por Vera. “As pessoas estão nas ruas dançando bois de reis, mas quando isso entra na escola a instituição vem falar que tem que mudar a letra do Mestre Manoel Marinheiro porque está errada. Ele era analfabeto e podia não saber ler e escrever, mas sabia ler o mundo. Por isso, digo que eu me alfabetizei de verdade em Felipe Camarão, na cultura oral, na história do povo potiguar”.

Protagonismo estudantil na Conane Ceará

Ainda sobre a necessidade de dar voz aos estudantes, Marcio Carvalhal trouxe a experiência da 1ª Conane Ceará (Conferência Nacional de Alternativas para uma nova Educação), realizada nos dias 18 e 19 de setembro, na cidade de Crato (CE). Buscando um modelo de seminário que fosse menos engessado, os organizadores mobilizaram mais de 20 coletivos formados por jovens no estado.

“O Ceará é um celeiro de ideias inovadoras. E esses coletivos têm uma identidade muito própria e atuam de forma a levar informação e conhecimento de maneira muito diferenciada. Então os convidamos para fazer a Conane Ceará”, contou. 

O evento ganhou ainda mais fôlego quando veio o convite de levar a Conane para a Semana Freiriana, já em sua 6ª edição e tradicionalmente realizada no Cariri cearense. “Foi um casamento perfeito. A temática central foi ‘proseando no Cariri’, porque o objetivo era justamente integrar os projetos, trocar informações. Era saber o que os jovens pensavam, desejavam, o que queriam para uma nova educação. E ficou muito claro que inovar não é necessariamente criar uma coisa nova, mas recuperar coisas que foram perdidas: uma educação mais humanizada, olho no olho, baseada no afeto.”

protagonismo estudantil

Jovens integrantes do Projeto Ecomuseu Pacoti – Maranguape/CE

Michele Soares foi uma das jovens presentes na Conane Ceará, representando o Ecomuseu Pacoti, museu comunitário idealizado pelo projeto Jovem Explorador. “O projeto surgiu com o objetivo de conhecer melhor o Ceará e o seu interior. Sempre trabalhamos com a perspectiva de uma educação que vai além das paredes da sala de aula. Temos essa ideia de que a comunidade precisa viver e fazer parte do museu. O museu mesmo é a cidade”, explicou a jovem, acrescentando sobre a importância do protagonismo estudantil: “Quando o jovem não se sente protagonista de uma escola ele não se sente atraído por ela. E quando ele começa a desenvolver algo do seu interesse, começa a querer ocupar este espaço.”

Também convidada do evento, Erilana Furtado, arte-educadora da Escola Maloca das Artes, falou sobre o que lá encontrou. “É um espaço de compartilhamento de ideias, de pessoas que estão subvertendo um modelo educacional falido. Uma galera super dedicada a pensar outras metodologias, uma escola que dê voz aos alunos e às potências individuais. Porque uma coisa é o que a gente idealiza que o jovem deseja e outra é o que ele pensa de fato. E na Conane apareceram vários projetos que estão escutando o indivíduo para então pensar as atividades e experiências.”

Assista na íntegra:

Para assistir aos demais webinários realizados pelo Movimento de Inovação na educação acesse a seção Interação.

 

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