28/10/2019
Ao mesmo tempo Amazônia e Nordeste, o estado do Maranhão é um território marcado por uma diversidade que fica evidente na profusão de sua cultura popular.
Mas foi percebendo que, ao invés de potência, esta diversidade se traduzia em desigualdade por conta da ausência de políticas públicas que educadores da região resolveram agir aliando duas perspectivas complementares: educação integral e desenvolvimento territorial. Assim nascia, há duas décadas, o Instituto Formação.
“Desde o início, nossa proposta era a de levar esta abundância do Maranhão onde havia escassez. E, neste cenário, a educação integral nos era muito importante: não podíamos fazer uma coisa pontual, que acabava ali. Tínhamos que pensar no desenvolvimento orgânico do estado. Desde então, começamos a conceber vários projetos e parcerias dentro desta concepção”, conta Regina Cabral, diretora da organização.
Com metodologias voltadas para educação, juventude, comunicação, cultura, esporte e desenvolvimento territorial, o instituto aposta em uma abordagem intersetorial para impactos duradouros. “Quando trabalhamos com as secretarias, por exemplo, não queremos simplesmente que reproduzam as políticas de seus estados, mas que pensem políticas que façam sentido para suas cidades. Quase tudo que fazemos não é para criar estruturas próprias, mas para usar as que já existem como espaços públicos nas comunidades, cidades e escolas”, explica Regina.
Um dos projetos desenvolvidos é o CEMP (Centro de Ensino Médio e Profissionalizante) – considerado ponto de desenvolvimento de território. Com o objetivo de melhorar a realidade socioeconômica e cultural de jovens residentes na zona rural e nas periferias de cidades da Baixada Maranhense, a iniciativa foi concebida em parceria com a prefeitura de São Luís e trabalha com o mesmo tripé das universidades: pesquisa, ensino e extensão.
“A gente tem uma concepção de que a pessoa é o maior ativo que um território pode ter em termos de impacto e transformação social. Portanto, elas precisam estar no centro das ações, como sujeitos que têm muitas potencialidades. O jovem faz arte, cultura, esporte, e o espaço de formação onde ele está – seja a escola ou a universidade – precisa enxergar isso”, diz Diane Pereira Sousa, gerente de projetos do Instituto Formação, que trabalha diretamente com os projetos voltados para as juventudes e educação alternativa.
Para Diane, é preciso olhar para o jovem e entender que ele está inserido em um processo social que é efervescente e que ele também tem muito a dizer sobre o que e como quer aprender. “A gente acredita na valorização da escola a partir do olhar do jovem. Porque a escola é um território que está dentro de outro território, que é o povoado, a cidade, o Maranhão, o País. Por isso, uma das nossas ações se vale da escrita afetiva, porque a gente entende que o lugar que eu estou produz história, me educa e me dá a noção de que eu importo “
Isto tudo aliando os saberes tradicionais locais ao conhecimento científico. “Entendemos que as pessoas têm direito de aprender aquilo que está como cultura, não importa se está na comunidade quilombola ou na cidade, de forma que possam ampliar seu repertório. Um estudante de agroecologia, por exemplo, que está estudando permacultura e vai para o quintal produtivo de uma família que planta mandioca, deve também saber como aplicar outras tecnologias de forma a evitar a queimada. Então, o conhecimento tradicional existente mistura-se a outro”, conta Regina.
A isso, Diane acrescenta sobre a importância de dialogar com outros territórios e momentos: “a educação é uma constante, que não se encerra na escola, acontece em outros espaços. Uma praça, uma comunidade, uma festa produz educação.”