08/06/2021
Seja resultando na produção de um aplicativo ou em um sarau de poesia, a aprendizagem baseada em projetos é uma das marcas do programa NAVE – Núcleo Avançado em Educação, desenvolvido no Colégio Estadual José Leite Lopes, no Rio de Janeiro (RJ), e na Escola Técnica Estadual Cícero Dias, em Recife (PE).
Desde o momento em que entram no Ensino Médio, os estudantes são instigados a partir de seus interesses para desenvolver protótipos ou projetos autorais que integram diferentes áreas do conhecimento e dialoguem não somente com o currículo, mas principalmente com as necessidades de um mundo em constante transformação.
Por trazer esse protagonismo estudantil, a aprendizagem baseada em projetos é considerada uma metodologia ativa. Além disso, é uma abordagem que favorece a colaboração entre os alunos e áreas do conhecimento. “Os projetos podem surgir de um problema ou de uma questão norteadora, proveniente de um contexto autêntico, envolvendo a investigação, o levantamento de hipóteses, o trabalho em grupo e outras competências até chegar a uma solução ou a um produto final. Nesse contexto, os estudantes devem lidar com questões interdisciplinares, tomar decisões e trabalhar em equipe”, explica a especialista Lilian Bacich.
Mas quais impactos este tipo de metodologia deixa na vida dos alunos? A história de Vinnicius Rodrigo Nazaré, recém-formado pelo Nave de Recife, ajuda a ilustrar. O jovem hoje trabalha com a start up que idealizou ainda na escola, a Somos Cordel, que cria jogos e outras ferramentas pedagógicas.
 “Assim que entrei na escola, tive contato com uma série de disciplinas eletivas. Uma delas, por exemplo, se chama Jogos para mudar o mundo e traz essa perspectiva de identificar e buscar soluções para problemas locais. Também os programas de tutoria da escola como a Monitoria de Mídia, que mostrava como construir roteiros, matérias jornalísticas, etc., me ajudaram muito nesta formação”, conta.
“Assim que entrei na escola, tive contato com uma série de disciplinas eletivas. Uma delas, por exemplo, se chama Jogos para mudar o mundo e traz essa perspectiva de identificar e buscar soluções para problemas locais. Também os programas de tutoria da escola como a Monitoria de Mídia, que mostrava como construir roteiros, matérias jornalísticas, etc., me ajudaram muito nesta formação”, conta.
Com este repertório à disposição, no segundo ano do Ensino Médio, o jovem já começava a estruturar o projeto que hoje é sua empresa. “Li na escola o livro ‘O Pequeno Príncipe em Cordel’ e foi aí que surgiu a ideia de criar o jogo ‘O Pequeno Cabra da Peste‘. Então, eu e meus colegas entramos em contato com o autor da obra, que gostou da ideia. A partir daí, começamos a desenvolvê-lo”, conta.
Neste processo de criação da releitura do clássico a partir da cultura nordestina e do digital, outra característica do Nave Recife foi muito favorável: o fato da escola ficar aberta durante o período das férias. “Lá, há muitos equipamentos bons e que nem sempre temos acesso de casa. Então foi muito importante podemos contar com a estrutura física da escola neste período de desenvolvimento”, diz.
A iniciativa logo virou empresa e conquistou apoio de importantes agentes do empreendedorismo jovem como Porto Digital, British Council, Porvir e Ted. Vinnicius e seus colegas começaram então a expandir suas atuações e a pensar como poderiam atender as escolas de forma pedagógica por meio da oferta de outros recursos digitais engajadores.
A Cordel também está com projetos focados na capacitação e formação de professores por meio de workshops de gamificação, metodologias ativas, entre outros temas ligados à cultura digital. “A gente tem visto a dificuldade que estes educadores têm para lidar com as novas tecnologias, então nosso grupo foi chamado por uma gerência da região sul de Recife – que cuida de 90 escolas públicas da região – para desenvolver algo em conjunto”, conta.

Vinnicius e seus colegas do NAVE Recife
Os impactos positivos do olhar interdisciplinar trazido pela aprendizagem baseada em projetos também é ressaltada pela professa Daniela Ilhesca. Na EMEF Arthur Pereira de Vargas, em Canoas (RS), o projeto “Solta a Voz, Guria!”, realizado com os alunos do 9º ano, deixou um legado de empoderamento e da importância da igualdade de gênero entre a comunidade.
 A iniciativa interdisciplinar, que envolveu pesquisa, entrevistas e redação dos estudantes, culminou na produção de um podcast que narra as histórias de mulheres da escola e da cidade. “Começamos com esta abordagem e então pensamos como seria interessante contar também a história de grandes cientistas brasileiras”, conta a educadora. Daí surgiu a série “Mulheres na Ciência, no Mercado de Trabalho e na vida prática”, que colocou os estudantes para entrevistar profissionais que atuam hoje na área.
A iniciativa interdisciplinar, que envolveu pesquisa, entrevistas e redação dos estudantes, culminou na produção de um podcast que narra as histórias de mulheres da escola e da cidade. “Começamos com esta abordagem e então pensamos como seria interessante contar também a história de grandes cientistas brasileiras”, conta a educadora. Daí surgiu a série “Mulheres na Ciência, no Mercado de Trabalho e na vida prática”, que colocou os estudantes para entrevistar profissionais que atuam hoje na área.
A proposta agora é expandir o projeto para narrar histórias de mulheres de outras áreas e contar com a parceria de outras escolas do município e região. “O mais legal de trabalhar com projetos é que ele coloca os alunos para pesquisar sobre diferentes áreas do conhecimento e serem protagonistas daquilo que estão aprendendo”, diz Daniela.