14/05/2020

Em artigo, Pacheco escreve sobre a propagação de um “vírus benéfico”: o da inovação

Lages, Primeiro de Maio de 2040

E foi assim que tudo aconteceu… chegou a hora de vos contar a saga vivida por professores, que ousaram mudar as suas práticas e produzir inovação.

No primeiro de maio de há vinte anos, uma equipe de educadores lançou na internet o convite para “aprender em comunidade”. Era uma proposta de auto-formação, que dava resposta efetiva à necessidades sociais e educacionais do tempo de pandemia e da pós-pandemia. O gesto de amor e a coragem de centenas de educadores viria a contagiar milhares, como se tratasse da propagação de um “vírus benéfico”.

As práticas, que esse benigno “vírus” preconcebeu, restabeleciam a ligação entre família, sociedade e escola, algo que a escola da Primeira Revolução Industrial havia desfeito. Conciliava aprendizagens presenciais com aprendizagens realizadas através do recurso a tecnologias digitais de informação e comunicação.

inovaçãoEm espaços de aprendizagem físicos e virtuais, os educadores não preparavam projetos para os alunos; construíam projetos a partir de necessidades concretas dos alunos e das suas comunidades. Não faziam inúteis planejamentos de aula; ensinavam os seus alunos a planejar-se, a saber gerir o seu tempo, os espaços, os instrumentos de recolha de informação. Não criavam dependência nos alunos; criavam condições de mediação antropológica e de desenvolvimento de protagonismo juvenil. Os professores não “davam aula”; construíam roteiros de estudo de tripla dimensão curricular: a da subjetividade, a da comunidade e a da consciência planetária. E os jovens aprendiam a ser autônomos-com-os-outros, assumindo-se como sujeitos de aprendizagem, em contextos de cidadania plena.

Nos primórdios do século XX, a par da denúncia de Ferrière, que dizia ser a escola uma invenção do diabo, Montessori, Steiner, Freinet, Dewey e muitos outros escolanovistas propuseram que se passasse do magistercentrismo à centração da atividade escolar no aluno.

Diversas correntes pedagógicas foram adotadas por instituições de iniciativa particular. Nestas escolas, se continuava “dando aula”, mas melhorada com técnicas concebidas há mais de cem anos. Práticas fundadas no paradigma da aprendizagem misturavam-se com obsoletas práticas instrucionistas.

Com a descoberta do computador, a segunda revolução industrial emergiu, para logo dar lugar a uma terceira, que marcou a aparição da Internet e da automação. As escolas passaram a adotar a lousa digital, fez-se educação a distância, foram recriados sistemas de ensinagem. Surgiram absurdos como a “aula invertida” e “startups”, que engendravam empresas de ensinagem e mercantilizavam o direito à educação.

Aceleradas mudanças sociais, a inovação tecnológica, a pesquisa no campo das neurociências e no da inteligência artificial, a convergência entre teoria da complexidade e produção científica radicada no paradigma da comunicação, exigiam que se reconhecesse a necessidade de operar novas, profundas rupturas. Anunciava-se a aprendizagem centrada na relação.

Em plena 4.0, enquanto a universidade e a maioria das escolas estiolavam no “dar aula”, havia quem assumisse um compromisso ético com a educação e concebesse uma nova construção social de aprendizagem.

A Cláudia (no extremo norte do Brasil), a Edilene (no lugar por onde passa o Trópico de Capricórnio), a Marta (nas terras do sul), centenas de professores e famílias, refletindo uma nova visão de mundo, recusaram participar num crime de lesa humanidade – a prática do instrucionismo – e deram novos mundos ao mundo da educação.

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